sábado, 10 de julho de 2004

LEMBRA DISSO?®


Julho de 2001. Finalmente o teaser do filme Homem-Aranha estava on-line, após uma espera de mais de 30 anos (o pessoal da velha guarda que o diga)! Eram umas 4 horas da madruga e, após um senhor congestionamento na base de dados da Sony Pictures, finalmente baixei o disputado curta-metragem. Dezenas de reviews e análises já pipocavam em vários lugares da web, minutos depois dele ser disponibilizado, o que me deixava ainda mais ansioso. Mas, sinceramente, nada havia me preparado para o que eu ia assistir.

Com uma edição rápida e um roteiro simples, eu me deparei com o mesmo clima que estava acostumado a ver nas HQs, desde que era moleque. Os ladrões de banco high-tech, a ação veloz, o helicóptero dos vilões na cobertura do prédio, estava tudo lá... e o suspense para ver o aracnídeo, crescendo a cada frame. Após uma fuga espetacular, o susto. O helicóptero é bruscamente puxado para trás e eu ainda não havia assimilado que aquilo era uma teia... nada que dezenas de replays não resolvessem.

Aliás, esse teaser foi, com certeza, o vídeo que eu mais reassisti na vida (mais até do que o Dead End). Aquele helicóptero fazendo o papel de mosca presa na teia, em meio ao monumental World Trade Center, foi de gelar a alma. Eu estava tão assombrado quanto os malfeitores do filme. E o vislumbre final do Homem Aranha live-action foi indescritível. Ele se balançando nas teias entre os arranha-céus de New York era a realização de um sonho. Eu não acreditava no que estava vendo, literalmente. Minha lembrança mais próxima de um Aranha em carne e osso era aquele seriado medonho dos anos 70. Foi emocionante.












Já na terceira reprise (seguida) eu reparei no "Otto Octavius" do quadro dentro do banco. Bem antes de ler isso na web. Se eu tivesse blog naquela época... E olhando hoje, temos a certeza de que o segundo vilão da série já havia sido escolhido há muito tempo. Muitos cogitaram que seria o Lagarto ou o Venom. Tinha quem jurasse que seria os dois!


Após os atentados do 11/9, o teaser foi banido de toda e qualquer divulgação do filme. Achei uma pena, pois o herói simboliza a grandiosidade da cidade de New York, e seria sim, uma belíssima homenagem. Mas entendo perfeitamente esse caso em particular, que passa ao largo da censura instituída pós-atentado. O mundo estava traumatizado e era um momento muito delicado para questões de ordem pública.

Essa pequena pérola revolucionou o modo de se promover potenciais blockbusters e, como nunca foi vinculada ao filme em si, se tornou um momento único e inesquecível para os fãs do Amigo da Vizinhança. Foi a primeira vez que vimos o Aranha pessoalmente, de verdade.

Esse vídeo clássico está disponível aqui, para download.




PETER PARKFLY & SUPERMAN: RED SON - REDUX
(doggma's cut)


Analisar determinadas obras de forma mais técnica e particular é quase uma blasfêmia para alguns. Para esses, tudo tem de se limitar apenas à emoção. Geralmente isso ocorre quando se trata de um clássico reconhecido, e é fácil chamar opinião de pretensão. No escopo das HQs então, nem se fala... Fanboys são guerreiros xiitas que retaliam de forma selvagem e com requintes de crueldade passional. Eu sou um deles (paddawan ainda, mas sou sim), então conheço bem isso. Mas também sei que muitos guardam para si opiniões pessoais que diferem da maioria – talvez pra não gerar discussões, ou talvez por não ter saco para agüentá-las. É foda. :P

Como eu sou cabra-macho/bisneto de Lampião, questionarei aqui alguns pontos de obras consideradas irretocáveis e, "pior" ainda, recentes: Homem-Aranha 2 e Superman: Red Son. Putz.


Concordo que fui evasivo ao expressar em cotação o que achei do filme (embora o texto tenha ficado bem transparente). Antes, os pontos "negativos", que eu não que creio que o sejam, como o fato do Aranha ter parado o metrô. Ele consegue erguer cerca de 10ts, e é claro que esse nível de força lhe confere automaticamente uma resistência física sobre-humana. Não é qualquer pancadinha que faria o aracnídeo sangrar, por exemplo. Então, vejamos: esse nível de invulnerabilidade o livrou de fraturar as pernas nos trilhos, e foi um grande acerto ele não ter tido sucesso dessa forma. Levando em conta o peso e a velocidade do metrô, ali deveria ter umas 55/60ts de pressão pro Aranha segurar. Coisa pra um Hulk ou um Juggernaut. Se ele tivesse o brecado na hora seria osso de acreditar, mas ele ainda percorre uns 450m antes disso. Fazendo um contrapeso com picos de 10ts a cada 30m percorridos, dava sim. Sem contar com a ajuda do atrito existente entre as rodas e os trilhos. Além do mais, ele já fez coisa pior nas HQs (como suportar o peso da fundação de um edifício - isso que foi exagero). Pontuando a seqüência de forma corretíssima, o aracnídeo fica um caco após a façanha.


Ao contrário do que muitos acharam, não encarei como um erro grave o Parker ter revelado sua identidade pra metade de New York. Aquilo tinha de acontecer mesmo com o Harry e com a Mary Jane. Ninguém, em sã consciência, iria agüentar mais outro filme com o Harry choramingando e pressionando Parker, nem a deliciosa M.J. se esfregando no rapaz, sem sucesso ("ah, se ela me desse mole!"). Quanto aos passageiros do metrô, tudo certo também. A revelação de sua identidade contextualizou mais um elemento do sacrifício que a carreira de herói exige. E quando eles o carregaram cuidadosamente, ficou estabelecido um sentimento de solidariedade genuíno, muito mais verdadeiro do que o "mexeu com um, mexeu com todos" do primeiro filme (incitando uma reação coletiva ao 11/9, soando muito forçada). Isso foi um ponto a favor, na minha humilde e nada pretensiosa opinião.

Mas voltemos à lida: apesar do charme inegável que permeia a maior parte do filme, é inegável também que a estrutura da história é padronizada. É sim, tá tudo lá no manual dos filmes de aventura. A inovação no cinema pop acabou desde que Errol Flynn atirou a primeira flecha na pele de Robin Hood. Isso acontece. Lembro quando assisti no cinema o Terminator 2. Eu já sabia tudo do filme, como começava e como acabava. Até cenas importantes do meio eu já tinha visto na TV. Muito disso se dá em decorrência do marketing pesado, tal qual no spider-movie, mas a maior parte se deve mesmo à pouca ousadia do roteiro. No primeiro filme a grande sacada foi o motivo que levou Parker a ser um combatente do crime. Mérito de Stan Lee. Já HA2 veio "deserdado" de uma grande idéia e não se preocupou tanto com o quesito da originalidade. Isso não é exatamente grave, é apenas uma leve embaçada, afinal os personagens são tão carismáticos que tiram de letra qualquer clichê.

Também não é criticável a boa forma física exibida pela Tia May, quando se pendurou naquele guarda-chuva, no alto de um prédio. A intenção era de comicidade e a conclusão da cena foi simplesmente hilária.


Chato mesmo foi a suposta "morte" do Doutor Octopus. Assistir o Oquinho se rendendo e afundando que nem o Titanic foi, literalmente, um balde de água fria, principalmente depois daquelas lutas eletrizantes. E a calma relativa de todos perante aquela imensa esfera de energia foi anti-climática, especialmente quando o Oquinho estava caído e Parker ficou lá parado na frente dele. Cara, se aquela bolinha de gude causou tanto estrago na apresentação científica, aquela supernova era pra deixar todos desesperados. Acabou que a ameaça foi minimizada diametralmente à calmaria dos personagens envolvidos. Considerando que era a conclusão, esse deveria ser o auge do filme inteiro, a cena mais importante e a mais tensa. Esses detalhes foram ruins? Nem tanto. Poderiam ser melhorados? Poderiam sim, muito. Ficou faltando aquela última seqüência que povoaria nosso imaginário até o próximo filme.

Agora, detalhado: superior ao primeiro, mas longe de fazê-lo um retardatário. Nota que eu considero justa e sóbria pro HA2: 9,0 (a nota do primeiro é 8,5). Como podem ver, é uma excelente nota, mas não a melhor. Ainda não foi dessa vez que um filme do Aranha alcançou o nível de excelência.


A idéia do Superman comandando, com mão-de-ferro, um sistema totalitário e fascista já foi sugerido antes (vide Reino do Amanhã), mas Mark Millar elevou o conceito a novos patamares ao remanejar o super-caipira do Kansas para uma fazenda coletiva da Ucrânia. O roteiro é intrincado e sua complexidade é digna de nota. Saber transpor personagens já conhecidos para um outro contexto é difícil, e mais difícil ainda é saber que personagens. O Clark é uma força da natureza, uma fonte de inspiração e a representação máxima da ambição humana. É mais que um "super-herói", ele é uma figura simbólica, referencial e utópica - justamente a peça que faltava para o complicado tabuleiro de xadrez comunista. Tal qual o ideal soviético inalcançável, logo Clark passou a ser encarado como a personificação viva desses falsos anseios. Ninguém jamais chegaria um dia a ser um Super-Homem, a não ser ele próprio. Um Narciso ao avesso que só Freud explica e olhe lá.


Bom, qual é a bronca? Nenhuma, as pequenas imperfeições que se encontram em Red Son são próprias de edições especiais. Sentiríamos até falta se elas não estivessem lá. Um exemplo é a velocidade irregular da narrativa. Bizarro teve uma participação muito breve e carregada de mistério a respeito de sua natureza. Brainiac então, nem se fala. Ele vem do nada e é derrotado do nada também. Só aparece o CPU dele e olhe lá. Inimigos que poderiam render situações interessantes, como Metallo e Parasita foram reduzidos à experiências genéticas mal sucedidas. Se Red Son fosse uma maxi-série (como Watchmen) seria diferente, com certeza.


Uma pequena observação eu faria em relação ao contexto histórico envolvido. A história começa durante o período do pós-Guerra, na década de 50, retratando Clark como o braço forte de Josef Stalin. Não é especificado lá, mas imagino que o Super já estava com seus 35 anos de idade (seus poderes se manifestaram com 12). Bem, cerca de 15 anos antes, a União Soviética protagonizou um dos momentos mais críticos da 2ª Guerra. Eles foram responsáveis pela primeira grande derrota do exército alemão, em Stalingrado. Nessa época, Clark já deveria ter saído da fazenda e já estaria transitando pelos arredores de Moscou. Antes da virada em cima dos alemães, o povo russo foi vítima de um dos maiores genocídios da História da Humanidade. Só na Operação Barbarrossa, em 1941, foram mais de um milhão de mortos em apenas algumas semanas. Durante esse período, Stalin mergulhou em uma profunda depressão (ficou dias trancado em seus aposentos enquanto o povo era massacrado), devido à "traição" de Hitler, com quem havia assinado um tratado de cooperação mútua, pouco antes. Aonde estava Clark nesse ponto? Por que ele não interveio no massacre – pelo menos em território soviético?

Bom, isso de fato não é um ponto negativo e muito menos tira o brilhantismo da obra, afinal, toda história tem de começar de algum lugar. Pena que não começou antes. Millar perdeu uma excelente chance aí, mas obviamente foi intencional. Havia o risco de desvirtuar o objetivo da história, que era mostrar o impacto de um Clark soviético nos dias de hoje, e não nos dias de ontem.

Isto posto, proponho uma versão "sem cortes" de Red Son, com 12 edições de 100 páginas cada. :P

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