sexta-feira, 2 de julho de 2004

PETER PARKFLY


Hill Valley, Califórnia, 1955. O doutor Emmett Brown está à 15 metros do solo, pendurado no relógio da sede da prefeitura. Ele tem apenas alguns segundos para conectar o cabo de força num dos ponteiros do relógio, antes que o relâmpago caia. E ele até conecta, mas ao puxar o cabo, o plug que está no chão se solta. Nessa mesma hora, no fim da avenida, um desesperado Marty McFly fica ainda mais desesperado quando o seu DeLorean time machine afoga. E o tempo está se esgotando...

Em 1985, Robert Zemeckis, Chistopher Lloyd e Michael J. Fox levaram platéias do mundo inteiro à beira de um ataque cardíaco com seqüências como essa. Os protagonistas se metiam em cada situação complicada (às vezes, mais de uma ao mesmo tempo) e a impossibilidade de conseguirem se safar delas era tão grande, que incendiava a telona de tanta adrenalina.

Homem-Aranha 2 (ué, sem subtítulo?) traz um certo parentesco com essa linha narrativa. Por vezes, o aracnídeo lembra até aqueles caras que equilibram 15 pratos e ainda dançam forró ao mesmo tempo. Nem no filme anterior o Cabeça de Teia trabalhou tanto quanto aqui - e poucas vezes nas HQs também. Lembra, no 1º filme, quando o Duende Verde o obriga a escolher entre M.J. e um teleférico cheio de gente dentro? Nah... Aqui, ele entrega pizzas enquanto livra crianças de um atropelamento, salva Tia May de uma queda livre enquanto luta com o famigerado Doutor Octopus, prende bandidos em alta velocidade enquanto vai à um compromisso importante, segura pessoas que são atiradas de um metrô ao mesmo tempo em que tenta alcançá-lo... enfim. "Trabalho" é o sobrenome do Aranha.


Todos sabemos que o esforçado Peter Parker é o mais "gente como a gente" dos quadrinhos. Mas aqui pegaram pesado. Se você quer ver um cara se estrepar em seqüência, e de forma impiedosa, HA2 é o filme. Peter é tão pé-rapado quanto eu (ou quase!), não consegue dar conta dos seus compromissos, não consegue ajudar e dar a atenção devida às pessoas que ama, e está num dilema sentimental que parece até coisa do Paul Thomas Anderson. Enfim, o Peter Parker sou eu. O cara se fode em 90% do filme, e por favor, alguém providencie urgente um canapé para o Peter...


A vilania continua com ótima representação em HA2. Depois de Ian McKellen, Brian Cox (ambos da franquia X) e Willem DaFoe, o bad motherfucker da vez é o sempre competente Alfred Molina. Nos momentos tipicamente vilânicos do Dock Ock (apelido pouco explorado no filme, pena), ele oferece uns trejeitos maléficos tão estereotipados quanto maravilhosos. O cara transmite uma filhadaputice que só vendo (a seqüência do banco é a tradução perfeita disso). E realmente, aqui fica evidente quanta falta faz um vilão bem (mal) trajado. O visual do Oquinho dá de 10 no look space-boy do Duende – ainda que não tenha ficado perfeito.

O tom bem-humorado do filme foi muito bem vindo. Têm umas cenas de rachar o bico, mesmo que você não seja de soltar a franga num cinema. A seqüência do elevador é insólita, pra dizer o mínimo. A dramaticidade de quando ele resolve aposentar o uniforme (não é spoiler, todo mundo já sabe disso) logo é amaciada por um "clip" da breguíssima "Raindrops Keep Falling On My Head", ilustrando a nova fase do Peter "normal". Puta que o pariu, eu ri pra caralho nessa hora (é, eu ri tanto que só consigo expressar issaê).



Ah, claro... us porradêro. Bem diferente do ninja challenge no final do 1º filme, aqui é um toma-lá-dá-cá na mesma proporção de ida e volta. Traduzindo: o Aranha e o Octopus se surram pra valer e com tudo que têm direito. Todas as cenas de luta são ótimas e logo na primeira delas, no banco e seguindo para o alto de um edifício, os dois já saem se rasgando. Quanto à seqüência no metrô, é verdade, é tudo aquilo mesmo que dizem. O melhor das HQs se uniu ao melhor do cinema de aventura e voilá: foi criada uma das mais perfeitas cenas de adaptação de quadrinhos. Mal posso esperar pelo DVD pra programar isso no repeat. Aliás, ligeira vantagem para o Oquinho em todas as contendas.

Não dá pra comentar demais sem arreganhar de vez a história (tem uns spoilers bons pra chuchu), mas dá pra avisar que meia-dúzia das amarras que prendem o Aranha vão pra cucuia de vez. Muitas críticas estão relacionando, errôneamente, os dois filmes do Aranha com os dois filmes dos X-Men. Que fique claro: HA2 é levemente superior ao primeiro, mas sem exageros gritantes. E em tudo foi melhor que no primeiro – ambientação, atuações, história, e principalmente, orçamento (revendo o primeiro x-filme hoje, vê-se momentos de inegável tosqueira). Portanto, a comparação é tão imbecil que só pode ter se originado nas rodinhas executivas da Warner.

HA2 é um puta filme divertido, embora não negue sua vocação de "mais um capítulo da novela" – sentimento reforçado pela conclusão, que é mais aberta que a de Matrix Reloaded. Cá entre nós, isso sempre incomoda, principalmente quando sabemos que um terceiro filme só rola daqui há uns dois ou três anos.

Pra acabar... sabiam que o Marty McFly inicialmente seria interpretado pelo Eric Stoltz ao invés do J. Fox? Olha só uma imagem dele devidamente caracterizado:



PS: Acertei quanto à cena do Harry "desmascarando" o Aranha...!

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