Eles não são apenas A banda-símbolo dos anos 80. O U2 é, por excelência, A banda-sobrevivente dos anos 80. E, convenhamos, pra eles isso não foi uma tarefa das mais fáceis. Tudo bem, na época houveram todos aqueles mega-eventos beneficentes, como o Live Aid, o Mandela's Day, o hit/cesta-básica We Are The World, etc. Mas a marca d'água dos 80's foram mesmo o individualismo over, o fenômeno yuppie (ex-hippies que montaram na grana), a new wave, a coca & aditivos, e uma acirrada competição sócio-canibal via capitalismo selvagem. No dial, The Power of Love (Huey Lewis & The News), Relax (Frankie Goes to Hollywood), Success (Sigue Sigue Sputnik), Walking on Sunshine (Katrina & The Waves), It's My Life (Talk Talk), Addicted to Love (Robert Palmer), Right Between the Eyes (Wax), 99 Red Balloons (Nena), e outros incontáveis hit singles que refletiam uma vida bela, ensolarada, com crédito ilimitado e tomando um dáiquiri na beira da piscina. Trilha sonora para gente fina, elegante e sincera.
O U2 e mais alguns poucos grupos eram o extremo oposto de tudo isso. Mas nem todos resistiram ao passar dos anos: o Joy Division morreu junto com Ian Curtis, o Simple Minds sumiu no limbo, o The Smiths acabou antes do tempo e o R.E.M. tem hoje a sua reputação intocável e uma insuspeita vocação pra mega-banda - mas travada pela timidez exagerada do vocalista Michael Stipe. Já o U2 era diferente. Eles tinham um background bem particular.
Pra começar, eles vieram dos guetos decadentes de Dublin, Irlanda (o Brasil da Europa), em meio à violentos embates entre católicos e protestantes. O cotidiano proletário era de constantes genocídios urbanos, frutos da guerra entre o exército de ocupação inglês e a milícia terrorista do IRA. E o U2 era apenas uma banda de rock'n'roll, certo? Certo. Mas do jeito deles: com simplicidade, cumplicidade, empatia, religiosidade, contestação, uma boa dose de intimismo e um frontman carismático, envolto em uma aura messiânica.
Esses operários do rock trabalharam bem, arregimentaram um grande número de fãs, e assim foi até 1988, quando eles "descobriram" a América no álbum Rattle and Hum. Algo mudou a trajetória do grupo ali. Seja lá o que tenha sido, foi o suficiente para um belo susto. Achtung Baby, de 1991, elevou a sonoridade da banda para um conceito mais sujo, claustrofóbico, industrial e liricamente mais intenso. E ainda foi a ponte para experiências mais radicais: Zooropa, de 1993, era uma bad trip apocalíptica, lisérgica e lotada de informação. Chegou ao (sem-)limite de trazer o redivivo Johnny Cash em uma das faixas. E foi daí para as pistas de dança.
Pop, de 1997, foi talvez a maior virada de 180º já realizada por uma mega-banda (e que eu sempre associei à virada de Lulu Santos, no disco Eu e Memê, Memê e Eu - seria o Lulu um legítimo precursor?). Depois de uma mega-coletânea no ano seguinte (estilo "ei, ainda somos nós, lembra?", para acalmar os fãs em choque), um pouco de suspense até 2000, com o álbum All That You Can't Leave Behind. Ali, o maior susto foi a banda trazer de volta todo aquele clima instrumental garageiro, melódico e energético do início de carreira. Mas não no todo, claro. Ainda havia muita bagagem do "lado obscuro", e hits como Elevation foram direto para as danceterias. Mas foi um disco extremamente necessário.
Finalmente, em 2004, How To Dismantle an Atomic Bomb expurga todas as amarras experimentalistas e dicotômicas que a banda adotou nos anos 90. Apesar disso, esse álbum está sendo sistematicamente malhado pela crítica internacional, sempre em busca de novidades (bandas "maravilhosas" como Super Furry Animals e Cooper Temple Clause). Aparentemente, o gado foi na onda - afinal, essa é a função do crítico - e o disco chegou com dificuldade ao seu primeiro milhão de cópias, o que para o U2 é muito pouco. É uma pena, pois o álbum resgata o espírito juvenil de uma das bandas mais relevantes dos últimos tempos. One by one:
Vertigo - Esse é o álbum do U2 mais U2 desde The Joshua Tree, de 87. Não se engane com a faixa de abertura, repleta de guitarras punk-salafrárias.
Miracle Drug - Esperançosa, vem carregada daquela emoção e entrega. Como nos bons tempos.
Sometimes You Can't Make It on Your Own - O início é bem soturno e depois fica mais ambient. Tem um refrão profundamente tocante.
Love and Peace or Else - Veio definitivamente dos anos 80. Produto típico daquela safra pop, em andamento e textura. Parece uma jam imaginária do U2 com o Depeche Mode. Essa faixa traz uma mensagem subliminar: "Esqueça as pífias tentativas de bandas pseudo-oitentistas como o Interpol. Vá direto à fonte".
City of Blinding Lights - Gosta de Travis? Adora Clocks, do Coldplay? Aqui o U2 mostra como se faz uma canção perfeita que sobe num crescendo melódico e emocional. Irretocável (e insuperável).
All Because of You - Forte e ritmada, com a guitarra de The Edge lá no topo das Marshals. O legal é que é uma canção porrada de amor. Volume 10 nessa.
A Man and a Woman - Título suspeito, mas o U2 tem um approach confiável. Bom gosto técnico e aquela guitarra "din-don" que o Dado Villa-Lobos sempre quis fazer igual.
Crumbs for Your Table - Essa já está tocando nas rádios? Deveria. Bono passeia fácil por difíceis nuances melódicas, "conversando" com os acordes de guitarra. Total interação entre ele e The Edge. Chega a doer de tão harmoniosa. Lembra muito em eficiência a dupla bonitinha-mas-ordinária Morrissey/Johnny Marr, do The Smiths.
One Step Closer - Não, não é um cover da canção homônima do Linkin Park, graças à Deus. Essa é uma música para você se rebootar após um fundo do poço amoroso. Para ouvir justamente nessas horas. É "um passo mais perto" da redenção.
Original of the Species - Melancolia buscando a felicidade, quando o tempo dá uma estiada após uma chuva interminável. É mais ou menos com se o Jesus & Mary Chain esboçasse um sorriso. Show particular do batera Larry Mullen Jr. E trilha pra sair na rua após um longo período trancado.
Yahweh - Música de despedida, mas por uma boa causa. Bem alegre, passional e impulsiva, e ao mesmo tempo, deliciosamente cuidadosa. Coisa que só a experiência proporciona, tanto na vida quanto nessa música. Dessa banda.
Aê... clica em cima...
Acho que já é a 3ª ou a 4ª vez que publico isso aqui. Parece até um vício. Sempre fica a impressão de que não fui eloqüente o suficiente. Aquele lance... "vou falar mais alto pra ser escutado".
Sendo assim, vamos lá: mapa cronológico Marvel, desde a era Stan Lee/Jack Kirby até a era Hugh Jackman/Toby Maguire (?!). Está tudo lá. Datas de criação, concepções originais, evoluções, e as adaptações atuais. Muito instrutivo. Também, não é pra menos, visto que foi elaborado pela revista Superinteressante, na edição #191.
Mas nem tudo é repetição... de bônus, um mapa cronológico da Detective Comics, dividido por "Eras", tragédias e suas dezenas de reformulações. Por sinal, saiu na Superinteressante também, na edição #195. É só clicar em cima.
Mês que vem eu publico as duas de novo... :)
Vou ver se até lá eu descolo um mapa da Dark Horse ou da Top Cow. ;D
Nunca fui fetichista com edições super-luxuosas de quadrinhos. Nunca tive vontade (nem grana) de adquirir Superman - Paz na Terra, Shazam - O Poder da Esperança, e salgadinhos do tipo. Meu recorde absoluto foram os 25 contos do RdA encadernado - devidamente orçado. Mas esse era imprescindível... eu perderia a minha carteirinha de fanboy se eu não arrumasse. E corro o risco de perdê-la de novo, com o lançamento de Batman - Cover to Cover, um item altamente consumível.
Trata-se de um livrão de capa dura que não traz história nenhuma, e sim as 250 melhores capas já feitas para o morcego. Muita gente boa participa da festa, entre eles, Neal Adams, Neil Gaiman, Alex Ross, Mark Waid, Brian Bolland, Bob Kane, Gil Kane, Mike Mignola, Mark Hamill, Frank Miller, e muitos, muitos outros. Acho que todo mundo que presta no ramo está lá.
Ah sim, tem gente aí que não desenha né. Essa bat-bíblia trará comentários, artigos e opiniões de celebridades diversas sobre o personagem. Tem até o Christopher Nolan no meio. E a coisa será dividida por temas: "Família Batman", "Inimigos Terríveis", "Armadilhas Mortais" e "Cenários Bizarros".
Agora, de volta à vida prática. Esse sonho de consumo custará proibitivos US$ 39,99. O lado bom é que só sairá em maio de 2005, lá fora. Se eu fizer bastante hora-extra...
E no mais, galera...
dogg... até empolgado com esse Natal, como há muito tempo atrás.
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