(Koch Records/2004)
Um dos discos mais divertidos do ano passado. E como a maioria dos discos "apenas divertidos", passou despercebido em grande parte das listas de melhores. Mas a vocação de Spin The Bottle - An All-Star Tribute To Kiss não é pra tanto, visto que foi um projeto quase que independente de Bob Kulick, que produziu o disco. Da mesma forma que fez nos tributos ao Def Leppard, AC/DC e Van Halen, entre outros (o cara é um tributeiro de mão cheia), ele reuniu vários profissionais do hard em formações esporádicas para executar alguns clássicos do Kiss. Daí saem times que variam de improváveis a brilhantes. Pra quem conhece, é uma festa.
Ninguém menos que Dee Snider já chega arregaçando a goela no hino Detroit Rock City, que conta também com Doug Aldrich num belíssimo trampo de guitarra, Mark Mendonza no baixo e John Tempesta na bateria.
Love Gun recebeu um instrumental afiadíssimo: Tim Bogart, Jay Schellen e até Steve Lukather, do Toto (!!). Pena que o vocal não saiu pra briga (ao contrário do original com o Paul Stanley)... mas Tommy Shaw nunca foi lá essas coisas mesmo.
Cold Gin é grande, espaçosa e sacana. Música pra implodir estádio. Característica muito bem mantida pela dupla de guitarristas Ryan Roxy/Robben Ford e os vocais "yeah" de Mark Slaughter.
King Of The Night Time World é do tipo "todo-mundo-agora-segura-no-refrão" e o espírito continua lá. Rich Ward mandou bem nas guitarras, Chris Jericho se esgoelou numa boa e conseguiram resgatar até o baixista Mike Inez (ex-Ozzy, ex-Alice in Chains, ex-Heart... enfim, ex-tudo).
A próxima, I Want You. Um hard soulzístico que influenciou de Lenny Kravitz a Ben Harper. Meu... mas que guitarra digitada é essa do Paul Gilbert (Mr. Big)? O cara é sinistrão!
A porrada seguinte já era porrada desde 1976: God Of Thunder. E o time escolhido é pesadão mesmo, com a batera cavalar de Carmine Appice, a guitarra canibal de Bruce Kulick (esse é um entra-e-sai do Kiss que eu nunca vi igual) e um vocal meio death de Buzz Osbourne (do Melvins). Mas a versão do White Zombie era melhor.
A agitadona Calling Dr. Love conta com os vocais de Page Hamilton (do Helmet... é o mesmo que Max Cavalera cantando no Barão Vermelho). Esse é com certeza um dos times improváveis que eu citei. Mas ficou ótima!
A seguinte é festa pura - Should It Out Loud com ninguém menos que mr. Lemmy Kilmister nos vocais ultra-hiper-mega-fodônicos®. FODA-FODA-FODA! Lemmy rulz, e como sempre, ele pega uma música alheia (do Kiss!!! Saca a magnitude da coisa?!) e a transforma em mais uma do Motörhead. E ele está muuuuuito bem acompanhado (em todos os sentidos): Samantha Malone (ex-Hole) na bateria e Jennifer Batten (ex-Michael Jackson!!) na guitarra.
Parasite ficou "assim, assim". Bem mais ou menos. A música é ótima por natureza, mas apesar do instrumental pancadão do próprio Bob Kulick (guitarra) e de Vinnie Colaiuta (bateria), o vocal de Doug Pinnick (do King's X) não segurou as ondas. Existe uma versão dessa música feita pelo Anthrax, no disco Live, ainda com o Joey Belladonna nos vocais. Essa sim ficou arrasadora.
Strutter é o "segredo menos bem guardado do mundo". Praticamente uma punk song. Portanto, Phil Lewis (LA Guns, vocais), Gilby Clarke (Ex-GN'R, guitarra) e Jeff Pilson (ex-Dokken, baixo), a levam profissionalmente sem errar ou arriscar. Ficou ótima, mas sem aquele "fogo". Prefiro a versão da banda feminina The Donnas, bem mais simpática.
I Stole Your Love... estou ouvindo agora. Instrumental matador! Deixa eu ver... CC De Ville (do Poison... ressuscitaram o cara!) e Ashley Dunbar. Entra um vocal matadinho, sem força nenhuma... putz, é Robin McCauley, que conseguiu chutar pra fora depois de uma belíssima jogada ensaiada. Nota 11 para o instrumental. Os vocais eu vou apagar no Pro Tools.
Por último, destaque total e absoluto para a doce señorita que embeleza a capa. ;D
(SPV/2004)
Dave Wyndorf, frontman e líder do "Monstro Magnético", começou a correr do rótulo stoner rock assim que o estilo começou a fazer sucesso com os hits do Queens Of The Stone Age. O sucesso ( +$ ) às vezes atrapalha - principalmente quando termina ( -$$$$$$ ) - e como lá nos EUA há uma moda diferente pra cada dia da semana, fica bem compreensível a atitude do cara. Mas tanto por merecimento quanto por bom senso, o Monster Magnet já deveria ter estourado há muito tempo por lá. O som deles evoluiu daquele peso lisérgico/sabbático dos primórdios (vide o disco Spine Of God, de 1991) para um bem-resolvido mix de elementos tradicionais e caros ao povão norte-americano. A sonoridade atual do MM é um furacão acid rock movido à country, blue-grass, folk (!) e efeitos com bastante feedback, e dotado de um inequívoco tino pop com melodia, refrão marcante e final apoteótico. MM não é MM's, mas é tão americano quanto.
Monolithic Baby! traz todas essas informações já incorporadas a banda e conta novamente com uma excelente produção. Abrindo o álbum, Slut Machine manda ver numa rifferama de guitarras saturadas com a tensão lá no topo, só pra esquentar os alto-falantes. Essa música me lembra muito um MC5 atualizado. Pra falar a verdade... todos os discos do Monster Magnet me lembram um MC5 atualizado. Na seqüência, Supercruel traz uma levada de guitarra simples, barulhenta e efetiva, que Jack White daria a alma pra poder criar algo igual. Unbroken (Hotel Baby) tem um fôlego mais pop, mas sem perder a fomeagem guitarreira-viajante da banda. Poderia rolar na rádio numa boa (se a rádio for boa, claro!). Radiation Day é um amasso de stoner e punk, com mudanças de tempo e um refrão gritadão que eu não canso de cantar no chuveiro. The Right Stuff segue a mesma trilha sujona com várias camadas de guitarras e aquele ritmo train from hell que deve ser algo maravilhoso de se ouvir ao vivo. Já Ultimate Everything ressuscita o monstro stoner que ainda vive no MM. Peso doom com guitarras lascivas e vocais curtidos a gim puro e sem gelo. É o Monster fazendo o que fazia no começo, só que ainda melhor. E uma dica... não ouça There's No Way Out From Here "de cara" (sóbrio, capice?). Essa maravilhosa cover de David Gilmour (Pink Floyd, man) fica ainda mais viajante acompanhada de um bom vinho, um bom whisky ou, melhor ainda, de uma boa mulher. É pra sair de órbita mesmo.
(Mercury/1976)
Para o gosto médio, o Kiss sempre foi uma banda estilo "ame-ou-odeie". Houve uma época em que gostar deles era considerado tão brega quanto gostar de ABBA, discotéque ou Cat Stevens. Mas, sejamos justos, isso nunca teve razão de ser. Méritos para o Kiss não faltam. Eles (re)descobriram a fórmula do hit fácil, em rockões repletos de riffs cortantes de guitarra, refrães ultra-grudentos e letras falando de garotas, festas, rock'n'roll, garotas, carrões, garotas, sua amada Detroit e garotas (já mencionei garotas?). Nada daquele pseudo-satanismo que lhes imputaram no início da carreira (Kids In Satan's Service... bah!). O Kiss estabeleceu padrões definitivos para todo o rock posterior e foi - ao lado do Nazareth e do Aerosmith - o pai e a mãe do hard rock oitentista, com apenas a parte boa que esse título confere.
A simplicidade quase minimalista das músicas davam vazão para influências até em outras subdivisões do rock. God Of Thunder, de 1976 (ano pré-explosão do punk), pode até não ser o melhor do Kiss, mas com certeza é um dos discos mais Kiss que o Kiss já gravou. Logo na 1ª faixa, um clássico definitivo do rock e música obrigatória para aquela seleção estradeira: Detroit Rock City é uma daquelas canções tão cativantes quanto simples, ou cativantes justamente porque são simples (ou algo parecido). Agora, muito cuidado ao ouvir as animadinhas King Of The Time Night World, Flaming Youth, Shout It Out Loud e, principalmente, Do You Love Me?. O grau de chicletismo dessas músicas chega a ser assustador (Do you Love Me? foi até "adotada" pelo Nirvana, em seus últimos shows). Já a paulada God Of Thunder tem samples de uns moleques gritando e um peso tribal, deixando vir à tona toda a carga heavy que a banda sempre ameaçou (essa música já foi até regravada pelo White Zombie). Mas o Kiss também sabia fazer carinho: a esperançosa Great Expectations é emocionante e Beth é perfeita pra... hã, aprofundar relações interpessoais com o seu interesse amoroso... enfim, música pra trepar mesmo.
Quando eu afirmo que o Kiss foi uma banda influente pra caramba não é à toa. O tão utilizado formato rock de shows foi popularizado por eles. Todos os artistas de hard, glam e pop devem as calças ao grupo. Portanto, largue o preconceito. O Kiss é uma banda legal pra cacete. Ah, as máscaras...? Elas faziam parte da zoeira. Ninguém nunca pegou no pé dos Secos & Molhados por causa disso.
Em tempo... a minha preferida era a do Gene Simmons (o 2º da esq. pra dir.)... :P
(Warner/1996)
Banda-projeto que passou praticamente batida nos anos 90. O Neurotic Outsiders fez história ao enfileirar os rockstars Duff McKagan (baixista do Guns N'Roses), Steve Jones (eterno guitarrista do Sex Pistols), John Taylor (guitarrista do Duran Duran) e Matt Sorum (baterista do The Cult e do GN'R) numa mesma banda. Com uma produção levada por Jerry Harrison (do Talking Heads!), eles revisitavam o glam e o free rock setentista (praticado por Humble Pie, Small Faces, Free, entre outros) de forma competente e energética. O fato é que o primeiro e único álbum da banda não fez feio, como a maior parte da crítica pintou na época. Aliás, provavelmente esses críticos devem ser da mesma linhagem maldita que até pouco tempo atrás babou pelo The Darkness e pelo Velvet Revolver, que têm exatamente a mesma proposta de sonoridade. E essa última ainda tem uma similaridade gritante com o NO, que é a sua formação bem peculiar (no caso, com integrantes do Stone Temple Pilots e, novamente, do GN'R). Mas definitivamente, NO não bombou na época. E por que será? Tranqüilo e infalível como Bruce Lee eu vos digo: grunge, baby.
O disco é um primor de rock'n'roll festeiro. Se no Brasil o samba fosse rock (quem dera) ele iria tocar até em trio elétrico. Lembra do álbum de covers do GN'R, "The Spaghetti Incident?" (o melhor disco do GN'R segundo os detratores do GN'R?). NO faz uma versão extendida desse disco. Estruturas de rock old school com uma roupagem mais agressiva, gravada com equipamentos modernos e poderosos. Faixa-a-faixa de leve:
Nasty Ho - Abertura curta e grossa! Riff e velocidade punks (ho!) com Matt Sorum literalmente espancando as peles da batera. Vocal pingando ironia e guitarra-base em ritmo de serra-elétrica. Nastyyyy Ho!
Always Wrong - Tom sisudo com ritmo cadenciado e socadão (tipo pá-pá-pá-pá nem devagar nem rápido). As guitarras marcam o passo de forma quase percussiva. Deve ter sido foda ao vivo.
Angelina - Ótima canção rocker. Como é que isso não tocou sem parar nas rádios? Ritmo alto astral, pesada e falando sobre uma garota. Hit total (pelo menos pra mim!).
Good News - Essa é punk!! O riff é melódico na medida certa. Depois larga a mão no instrumental rapidão. Me lembrou muito a ótima banda Down By Law!
Better Way - Ecos hippie rock. Lembra de Breaking The Girl, a canção zeppeliniana do Red Hot Chili Peppers? Então, Better Way é a canção zeppeliniana do Neurotic Outsiders. Ah, e belíssima.
Feelings Are Good - Esse título deveria ter sido endereçado à crítica da época... a guitarrona é bem encorpada e dita o ritmo da música inteira, com o resto do instrumental correndo atrás (aliás, todas as músicas do NO são assim, mas essa é mais que as outras). Pra aumentar o volume no refrão - ótimo.
Revolution - Arrancada punk turbinada. A música toda é um enorme refrão com a tensão instrumental no auge o tempo todo. Putz, Matt Sorum se acaba nessa faixa.
Jerk - NO é one-hit-band! E esse é o hit. Se tinha de ser só uma, então fizeram justiça. A música tem um refrão pra lá de super-bonder (também... "You're a bitch... I'm a jerk... I don't think that we can work...") e uma levada de guitarra matadora. Porrada certeira.
Union - O início tem uma melodia que parece muito com Slumber, do Bad Religion, mas a música é outra coisa. Com um vocal e um refrão bem tristonhos ("I wish I had a union..." - snif), Union parece um daqueles rocks australianos pra ouvir na praia durante o pôr-do-sol. Contra-indicada para momentos extremos de dor-de-cotovelo.
Janie Jones - Yowzaaa!! É essa mesma! A clássica Janie Jones do Clash! Punk, rockabilly, boogie-woogie e o escambau rockeiro em pouco mais de um minuto e meio de corre-corre! Pra ouvir durante uma bagunça sem precedentes!!
Story Of My Life - Pop song com jeitão de baladona melancólica. Alto potencial radiofônico. Normal.
Six Feet Under - Huh!! Rockão querendo sair dos trilhos - e saindo com tudo. A levada da guitarra é contagiante e o resto vai acelerando na pista. Parece um Aero em seus momentos mais velozes e irresponsáveis. E dá-lhe Matt Sorum! Coitada da bateria...!
(Warner/1972)
O velho "Cabeça de Máquina" do Deep Purple sempre foi um dos meus discos favoritos desde que comecei a ouvir rock and roll. E não era só por causa de Smoke On The Water não. O disco flagrava um Purple inspirado como nunca, tecnicamente no auge e com a formação ainda toda original. Por algum capricho dos Deuses do Rock'n'Roll, respondiam pela mesma banda, Ian Paice (bateria), Roger Glover (baixo), Jon Lord (teclados), Ian Gillian (vocal) e o lorde sith Ritchie Blackmore (guitarra... e que guitarra). Agora imagine esse dream team em plena sintonia, cúmplices no improviso e equiparáveis em talento natural e conhecimento técnico sobre seus instrumentos e seus respectivos lugares dentro do espírito da banda.
Eu costumava traçar paralelos entre os três maiores grupos de rock da época, que eram o Purple, o Black Sabbath e o Led Zeppelin. Em termos místicos e metafísicos (hehe) eles eram correspondentes, mas em termos de técnica musical fluída, o Purple levava a coroa (mesmo porquê, tem a questão do estilo deles, que "pede" mais do que o estilo das outras, etc). O fato é que Machine Head foi concebido numa era em que os músicos de rock eram valorizados acima de tudo pelo seu talento. Hoje em dia, p.ex., ninguém diz "nossa, o guitarrista do Creed toca muito" ou "caramba, o baterista do Nickelback é demais". Ou seja, a "identidade rock" de hoje está mais pra imagem do que para o reconhecimento artístico, infelizmente.
Sempre ouvi Machine Head. É um dos meus discos de cabeceira. Mas ultimamente tenho ouvindo mais do que de costume, pois só agora tive acesso ao excepcional trabalho de remasterização feito em 1998, em comemoração aos 25 anos do clássico. A qualidade é fora-de-série. Dá pra ouvir os caras marcando o tempo ao fundo, aqueles "yeah" discretos do Gillian em algumas passagens, alguns reverbers de guitarra e do pedal de distorção do teclado, e até uns "one, two, three, four" antes da introdução. Parece mesmo que a banda está ensaiando bem ao lado. É incrível como conseguiram melhorar ainda mais uma obra que já era (quase) perfeita.
Cara, Deep Purple é som de macho. Som de Hell Angel bebendo cerveja com uma groupie esperando na garupa da Harley. O Purple tocando é o mesmo que uma sinfonia de motores V8 roncando.
Eu ia colocar Highway Star, mas se ignorasse Smoke On The Water, Frank Zappa iria me atormentar até o fim dos meus dias. Aquele maldito estúpido com um lança-chamas...
dogg haley and his comets
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