terça-feira, 23 de junho de 2009

HASTA LA VISTA, KRYPTON


De volta à lida: o crossover Superman versus Exterminador do Futuro é um dos piores, senão o pior, que eu já li. O tipo do trabalho que os artistas pegam sem tesão criativo nenhum, tão somente para saldar as contas do fim do mês. O roteirinho é de Alan Grant, o mesmo da revista Judge Dredd, sem dúvida, rabiscado num guardanapo de padaria, entre um donut e outro. Os desenhos meia-sola são do geralmente eficiente Steve Pugh, de Santo dos Assassinos. Como se vê, a dedicação foi mínima, tendo em vista a qualidade dos envolvidos. Enfim, mais um caça-níqueis über-tosco feito sob medida para engambelar leitores newbie e admiradores incautos das duas franquias.

Essa edição (nada) especial foi destroçada com maior propriedade no Universo HQ. Mas pelo menos me atentou para alguns paralelos até estreitos do universo do Clark Kent com os exterminadores de James Cameron, incluindo até algumas emulações ocasionais.

Um bom exemplo é o vilão desta história.


O Superciborgue foi um dos falsos messias que substituíram o Superman logo após sua suposta morte, no início da década de 90. Na verdade, era Hank Henshaw, astronauta da LexCorp que sofreu um acidente no espaço junto com sua tripulação - formada pela esposa e dois amigos, numa referência direta ao Quarteto Fantástico (referência ao FF cool mesmo são Os Quatro, de Planetary, e tenho dito). Como de se esperar, todos ganham superpoderes do tipo fantástico, mas os efeitos colaterais são devastadores.

Quando o pior acontece e sua esposa morre, Henshaw culpa o Superman por não ter conseguido salvá-la (lógica de vilão é o que há!). Seu corpo físico é consumido, mas não antes dele descobrir que pode projetar sua consciência pra dentro de qualquer sistema informatizado e dominá-lo.

Henshaw sai de cena, reaparecendo em grande estilo como o principal vilão da série de arcos O Retorno do Super-Homem. O curioso é que, no início, ele tenta se passar publicamente pelo próprio Superman redivivo, mesmo com aquele visual de andróide assassino. Difícil é alguém acreditar num exterminador que voa. Esses roteiristas...


Essa foi mais evidente. Voltando um pouco no tempo, chegamos à antológica Man of Steel, revisão oitentista de John Byrne para o Superman. Além de dar um novo fôlego ao Azulão pós-Crise, também deu aos seus vilões o upgrade que precisavam há décadas. O que não foi tanto o caso do Metallo. Criado em 1959, sua origem pode ser considerada não só precursora do simulacro do Superciborgue, como do próprio Exterminador - incluindo aí o clássico "living tissue over a metal endoskeleton", diferente de seu xará da Marvel, criado anos depois.

Por ironia, a nova versão, de 1986, foi inspirada na cria de Cameron, bagunçando toda a minha teoria de criador/criatura. Mas foi apenas esteticamente. Apesar de contar com a fuça brucutu do Schwarza e tudo, Byrne só atualizou o cenário, reeditando quadrinho a quadrinho o background e as motivações originais do vilão. Mesmo o seu "coração de kryptonita" já estava lá (bom, acho que agora já estamos aptos para conversar com Grant Morrison numa roda de bar por, pelo menos, uns 12 segundos).

Metallo, que era vilão da décima quinta divisão, acabou indo para a segundona dos supervilões dos quadrinhos - é o 52º no ranking do IGN. Graças ao Byrne e sua fixação pelo Exterminador, ele ganhou uma sobrevida que dura até hoje. Inclusive fora dos comics, ganhando lugar nas séries animadas do Superman e da Liga da Justiça.

Aliás, foi com ele uma das melhores sequências da série The Batman, com direito a três boas referências aos filmes do Exterminador.




Valeu, Só Lutas!

As últimas notícias envolvendo Metallo mostram que seu apelo pop chegou longe. E que também acabou convergindo com o terminatorverse, coincidentemente na vida real. Mas vamos parar por aqui, pois já tive minha cota de Barrados no Baile por uma vida.

Se viesse falar da Brenda e da Kelly, de preferência com fotos HD em anexo, tô dentro. Mas do David... tô fora!


Voltando mais ainda no tempo: revista DC Comics presents #61 - Superman & OMAC, setembro de 1983. Um pequeno clássico do Super, com roteiro do grande Len Wein e desenhos do mestre George Pérez. O plot é basicamente o mesmo do 1º Exterminador do Futuro. Na história, um robô quase indestrutível é enviado do futuro para assassinar o cientista que criará o herói OMAC. Ele, claro, também consegue voltar no tempo, no último segundo. No presente, se une ao Superman para salvar o cientista e o futuro do planeta.

O filme estreou nos EUA em outubro do ano seguinte. Sem muitas infos específicas, fica difícil identificar o ovo e a galinha neste caso. A maioria das fontes apenas reconhece a coincidência impossível. Obviamente, o roteiro ou a sinopse do filme já existia quando a revista foi lançada, já que era o período de pré-produção, mas provavelmente não havia sido divulgado em materiais promocionais.

Considerando que a carreira de Wein sempre teve ligações estreitas com outras mídias, não duvido que ele já conhecesse ao menos a premissa do filme. Mas isso é só um palpite. Sem declarações diretas do quadrinhista (ou do cineasta), essa continua sendo uma pergunta para o futuro.

(Contudo, Cameron não foi de todo inocente. Em outro front, o diretor teve que creditar o autor Harlan Ellison após ameaça de plágio de dois episódios da série The Outer Limits e um conto sci-fi, escritos por ele)

No Brasil, essa história, no original "The Once and Future War", foi publicada na revista Super-Homem #23, pela editora Abril. Era maio de 1986. Com o planeta ainda curtindo a febre do Terminator, os editores brazucas não perderam a oportunidade: o nome do robô (no original, MurderMek) virou Exterminador e o nome da história, "O Exterminador do Futuro".


Sutileza, aqui me tens de regresso...

6 comentários:

Sandro Cavallote disse...

Belo post, cachorro. Sabia não dessas "licenças poéticas".

Demorou pra fazer um post de ROM, né?

Luwig disse...

Sei lá, vai ver é algo sazonal, mas me parece que o habitual odor pútrido do BZ deu lugar ao cheirinho gostoso de óleo diesel e graxa.

Quando o negócio envolve maquinário pesado, cê fica inspirado! Vide a tensão pré-Homem de Ferro, T4 e, por que não, Transformers?

Porra, cheguei inclusive a pensar que ia rolar uma referência infame ao "Mr. Roboto" do Styx (eheheh).

Abração.

JoaoFPR disse...

Putz, eu tinha essa HQ, do OMAC, li dezenas de vezes e de tão óbvio a referência, não consegui fazer um paralelo com o Terminator, sou um animal.
Abraço.

doggma disse...

Aê, Sandrão. O dia que resgatarem ROM do limbo, quem sabe... puta personagem injustiçado.

Luwig, quase rola uma ao "We are the robots" do Kraftwerk. :)

João, naquela época eu jurava que o Cameron tinha chupinhado a história dessa revista. Ainda vou mandar um email pro Len Wein...

Advisjet disse...

Legal esse relação de onde apareceu a influencia de cameron nas hq da DC. Mas também seria interessante falar da HQ baseda em um dos contos que deu origem ao Exterminador, de Cameron. A graphic novel O Demonio da Mão de Vidro. Saiu por aqui (pasmem) no Brasil pela editora Globo.

Anônimo disse...

Caraca dogg... isso é trabalho com pesquisa jornalística.... não é coisa que se acha assim por aí não. Foda!

Fivo.