quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

De volta ao trabalho


Pareceu uma eternidade, mas finalmente The Walking Dead retornou dos mortos... ou melhor, de seu recesso de quase três meses. Pouco é sabido sobre o gerenciamento da bagaça nesta etapa da segunda temporada. Nos créditos iniciais o nome de Frank Darabont ainda consta como o responsável pelo desenvolvimento, além de produtor executivo - função também creditada a Glen Mazzara, o novo showrunner. Tudo mais é mera especulação. Os pormenores do atual direcionamento não foram abordados pela AMC, muito menos pelos profissionais envolvidos. Então a saída lógica é relaxar e parar de super-analisar... opa, mas esse não sou eu, ainda mais em se tratando de mortos-vivos.

It's zombie time!

Oitavo episódio desta temporada, Nebraska começa exatamente do ponto onde a trama parou. A extenuante busca por Sophia finalmente chega ao fim, da forma mais trágica possível. Porém, o sentimento que bateu mais forte no grupo foi o de desilusão pelo futuro, excetuando Shane e, logicamente, Carol, a mãe da menina. Enquanto Carol passa seus próximos momentos devastada, Shane segue inabalável em seu inconformismo, batendo de frente com Rick, Dale e Hershel - que, pela primeira sua vez se dá conta da gravidade da situação e inevitavelmente entra em crise.

Esse complicado aspecto psicológico foi muito bem retratado pelo roteiro de Evan Reilly. E mais ainda pelo cast. A química entre os atores está efervescente, com trocas de olhares por vezes falando mais alto do que os diálogos. Até Steven Yeun (Glenn) e Lauren Cohan (Maggie) superaram sua hesitação inicial e estão interagindo com uma notável cumplicidade. Vide a cena em que Maggie questiona Glenn se ele também pretende ir embora. Havia muito subtexto ali e eles conseguem entregar a carga inteira para o espectador. De arrepiar.

Por sua vez, o Daryl de Norman Reedus continua um filho da mãe durão pra caralho. Mesmo naquele clima desesperador, o caipira segue impecável em sua representação do nobre selvagem (o "escuta aqui, Olívia Palito" foi lapidar). Já T-Dog ainda não me desperta a menor solidariedade. O personagem foi concebido com perfil genérico, limitado e com prazo de validade vencido antes mesmo das cópias do script serem impressas. Sentimento estendido para a irmã de Maggie e seu namorado Jimmy, por neglicência do roteiro. Espero que todos caiam numa piscina cheia de zumbis.


A sequência final foi bastante sugestiva. Rick, Glenn e Hershel se deparando com dois "errantes" vivos que parecem esconder alguma coisa por trás da fachada amigável. Tipo da cena tensa frequente nos quadrinhos e transposta à perfeição para o monitor a telinha. O suspense é bem construído e acima de tudo incômodo, graças ao tom dúbio adotado pelo ator Michael Raymond-James (o Rene, de True Blood), numa ótima performance. A conclusão do entrevero foi providencial para Rick, que há tempos precisava de uma boa catarse. E ainda provou que tem plenas condições de fazer o que precisa(rá) ser feito. Se as coisas se mantiverem nessa linha, devemos esperar por atitudes mais incisivas partindo dele. Já era hora.

Na cena também somos informados sobre alguns lugares que caíram ao avanço dos zumbis. Montgomery (Alabama), Kansas, Nebraska e também o Forte Benning (Georgia) tão visado por Rick e seu grupo. O que limita bastante as opções fora da propriedade de Hershel - e isso está longe de representar algo positivo no enredo.

O arco da fazenda está sendo adaptado com esmero, dramática e esteticamente. Em contrapartida, já em seu mid-season a narrativa apresenta dificuldades em se sustentar. Há uma forte sensação de adiamento na trama, o que tira a força do (bom) crescendo dramático e o deixa sem um escape regular. É um preço alto, como visto no caso de Sophia, amplificado por aquele ambiente rural, tipicamente bucólico e uniforme. Isso fica evidente quando Rick, Glenn e Hershel mudam de cenário (e objetivo) pela primeira vez em um bom tempo, com bons resultados.

O episódio também foi pobre em zombie action. E nas poucas cenas isoladas (Beth sendo atacada e a "pick-up of the dead") houve uma falha grosseira quando as roupas dos cadáveres levantam e revelam peles mais coradas e saudáveis que a minha. Tipo do defeito especial que se espera de Crepúsculo, com seus vampiros besuntados com pomada minancora até a linha da gola da camisa.

E não sou exatamente um especialista, mas a montagem desse episódio parece ter sido feita às pressas. Cortes estranhos que tiraram a fluidez de várias sequências e sobretudo uma overdose de Shane, que parece estar em todos os lugares ao mesmo tempo, até em cenas subsequentes (!). O roteiro de Evan Reilly tampouco consegue sair ileso de algumas chamuscadas. O que foi a insistência de Lori em enviar alguém para buscar Rick, quase que imediatamente à sua partida? É abusar muito da estupidez naquela altura do campeonato.

Deu no que deu. Só espero que isso não signifique aquilo que estou pensando. Ah, aquela edição #48...


Cotação:

9 comentários:

Luiz André disse...

Primeiro! Bom, creio que este episódio seja importante, não apenas ao que concerne aos desenvolvimentos da trama, mas porque mostra que a partir daqui, não há mais espaço para o que Frank Darabont havia produzido e pensado para a série. Li em algum site de notícias que seu projeto original de começar a segunda temporada era a partir de um flashback do soldado que Rick encontra dentro do tanque quando foge de um exército de zumbis ao chegar em Atlanta, isto lá no episódio piloto. A intenção era mostrar o começo da hecatombe zumbi e como as pessoas e as cidades foram sendo dizimadas rapidamente em meio ao pânico e ao terror. No papel, parecia ser uma ótima ideia, mas, desta vez, vai ter que ficar no platonismo da situação mesmo.
Sobre o episódio, gostei bastante e prevejo uma situação cada vez mais insustentável para o pessoal da fazenda em relação a Shane e a outras pessoas (mal) intencionadas que se aproximarem em busca de refúgio. A atitude de Rick mostra que o líder omisso em lidar com as responsabilidades de gerir um grupo a partir do diálogo começa a dar vazão a um senso de truculência tão caro para pessoas que se encontram numa situação como aquelas. Se toda uma sociedade vai para o ralo, não é tempo de repensar uma nova forma de moral?
Vamos ver no que vai dar daqui para frente.

samurai disse...

Como diria o outro : "Lori vai buscar o Rick ? Pra Que ????"
Acho que Shane tem dois caminhos: Mentalmente Destruido, ou caminhar (!!) para se tornar um perigo ambulante até que alguem resolva meter-lhe um tiro no meio da testa.
Achei a cena do bar muito "rapido no gatilho", mas como vc notou uma falta de fluidez na montagem pode ter sido isso.
Finalmente Rick decidiu falar menos e agir mais.
Acho que a Fazenda ja deu.Se demorar mais la..vai que aparece um Dinei Zombie ...
Tem que colocar o pe na estrada.
Abraços

doggma disse...

Curioso como o Rick desperta sentimentos quase unânimes de catarse e redenção. E ficamos todos satisfeitos com essa pequena amostra do que está por vir. Pelo jeito a atuação do Andrew Lincoln tem sido de primeira, huh?

* * *

Luiz, fantástica essa info sobre a proposta do Darabont (tem link?). Seria algo que mesmo a trilogia clássica do Romero relegou a 2º plano.

Concordo sobre o Rick, mas com uma ressalva. Ele não pode mudar o perfil sensato e cerebral que já tem. Não pode virar um "badass". O pai de família vem em primeiro lugar. Claro, vez ou outra tem que pôr "a mão na massa"...

* * *

Samurai, como já mencionado, Shane está no ponto (parece que estamos falando de um peru de Natal...), inclusive já está começando a se repetir. Mas o que me incomoda mesmo é a presença apagada do Carl nos últimos episódios. Ele não pode ficar apagado, ele tem que apagar...!

Falar nisso, já tomou vergonha e leu a série?

* * *

Considerações aleatórias: ninguém mais achou despropositado esse acidente da Lori? Seria uma maneira bem safada de tirar o bebê da trama (e tudo relacionado a ele, inclusive o momento mais transgressor de TWD-gibi).

E a fazenda? Será que aguenta mais esses cinco episódios restantes sem encostar a bunda na água?

samurai disse...

Pois é ainda não tomei vergonha na cara :). Dia desses ate coloquei na mão alguns exemplares ...mas piranguei . Mas de antemão ja aviso que por sua indicação matei de uma vez só homeland. Foda muito foda. E claro Luck...pqp.. realmente não é pra iniciantes tem que ta ligado em tudo.
Achei foda a participação do Nick Nolte. engracado tenho gostado mais da atuação dele depois de velho e depois daquela participação do pra mim substimado hulk do ang lee.
Alias ja viu Warrior com ele ?
Outra dica : Drive . To citando dois filmes aqui apesar de achar que a inteligencia americana ta nas series
Abraços
Alessandro

samurai disse...

E só complementando, realmente a atuação de Andrew Lincoln ta muito boa mesmo.

Luiz André disse...

Aí vai o link sobre a história que Frank Darabont havia preparado para o começo da segunda temporada:

http://omelete.uol.com.br/walking-dead/series-e-tv/walking-dead-saiba-como-seria-o-inicio-da-segunda-temporada-se-frank-darabont-ainda-comandasse-serie/

Sobre o Rick, quando me referi a sua atitude de matar os dois caras a sangue frio, quis dizer que ele fará o que for possível para proteger sua família em primeiro lugar, pois é nela que se encontra a moral que ele precisa para continuar. Não sei como os produtores irão colocar isto na tela, mas só pelo que tem sido vivenciado nestes últimos episódios, parece que vai ser bem interessante.
E em outra notícia, parece que Shane está com os dias contados:

http://omelete.uol.com.br/walking-dead/series-e-tv/walking-dead-divulgados-rumores-sobre-o-possivel-destino-de-shane-na-serie/

doggma disse...

Samurai, vi "Warrior", achei muito bom de fato. E adorei a indicação de Nolte pela Academia. Dica de filme com o Joel Edgerton (que fez o Brendon Conlon): o australiano "Reino Animal", de 2010. Fantástico.

"Drive" é foda, um dos melhores do ano, fácil. Só a sequência de abertura deve ter feito Michael Mann molhar as calças. Até aqui, o Refn está fazendo uma carreira impecável.

* * *

É Luiz, confesso que estaria mais feliz se não soubesse dessa premissa rejeitada do Darabont. A ideia é sensacional, os cameos de Andrea, Amy e Dale são de arrepiar e de um modo geral reafirma a proposta do cineasta em expandir a trama original, não apenas montá-la per se.

Já esse "possível destino de Shane", condiz com o direcionamento da história, mas desvia absurdamente da versão da HQ (que é um coice sensorial). Uma pena.

Tudo indica que será isso mesmo, conforme conversávamos Luwig e eu, mas há uma chance de não acontecer. Afinal, nenhum personagem novo foi introduzido em "Nebraska", conforme noticiado pela fonte...

Oremos.

Greg Reis disse...

David Morissey anunciado como o Governador em The Walking Dead.

Achei foda.

doggma disse...

Posteado em uníssono quase. Também achei foda. Mas com muitas dúvidas na bagagem.