quarta-feira, 30 de maio de 2012

She-Wolfe of the Satan's Service


Faria muito mais sentido se Chelsea Wolfe fosse natural de algum lugarejo perdido do leste europeu ou de algum país pródigo na cena black metal. Mas foi mesmo a ensolarada Califórnia quem pariu uma das revelações mais sombrias da cena alternativa. Ovelha negra per se, a cantora, guitarrista e compositora passa longe do ideário californiano padrão, do rock alto astral e das pistas de skate aos calçadões de Venice e às onipresentes praias - exceto, claro, se estiver nublado.

O tom é de uma suavidade melancólica, liricamente pesada, estranha e de uma forma incomum, sedutora. Não é uma música de fácil assimilação, mas certamente muito recompensadora para iniciados em Nick Cave, My Bloody Valentine, PJ Harvey, Portishead, Patti Smith e esquizoidices quetais. Em suma, uma resposta das profundezas à new age popstar de Florence + The Machine. Get out!!

Esse negrume todo ganhou a atenção da crítica indie e também a afinidade de fãs ilustres, ilustríssimas. Merecido.


Ἀποκάλυψις ("Apokalypsis"), seu segundo álbum, é arrepiante. Lançado no final de 2011, virou figurinha fácil nas listinhas mais descoladas de melhores do ano. Na parte melódica, o disco tem lá seus momentos "PJ & The Banshees", mas a obsessão por morte e desespero impregnada nas letras, o instrumental fúnebre, as vocalizações fantasmagóricas, a atmosfera soturna... porra, é de fazer até os caras do Ghost se mijarem nas batinas.

Não há nada de poser na cantora californiana. Ela é the real deal. Tori Amos fez uma cover do Slayer, Chelsea Wolfe fez uma do Burzum!

O som foi batizado de doom folk pela crítica, mas é apenas uma tentativa pífia de categorizar a demon-girl. A única música que se aproxima do rótulo talvez seja "Pale on Pale", um pesadelo sepulcral de sete letárgicos minutos com uma indefectível influência de "Black Sabbath", a música. A intro "Primal/Carnal" parece saída de uma missa negra ministrada pelo próprio Pazuzu e "To The Forest, Towards The Sea" é trilha pra fugir da bruxa de Blair e de toda a população demoníaca de Amityville e Cuesta Verde. Vade retro.

Já nas músicas "Demons" e "Friedrichshain" ela reafirma sua vocação pra PJ Harvey do inferno.


Mas é nas demais faixas que a artista destrincha mais a fundo sua identidade musical (ainda em formação, segundo ela), que lembra vagamente uma versão dark da Nico, a icônica musa ex-integrante do Velvet Underground.

Não duvidaria se o cultuado disco Chelsea Girl também escondesse alguma profecia sobre uma Chelsea sinistra de um futuro próximo...

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