Stormbreaker: The Saga of Beta Ray Bill é um arco em 6 partes com roteiro do ótimo desenhista de Powers, Mike Avon Oeming, e traços de Andrea Di Vito. A história traz o conhecido enredo envolvendo um planeta numa desesperada corrida contra o tempo e, claro, Galactus, o rei dos kickboxers. No caso, trata-se do planeta natal do korbinita mais famoso da Marvel... e apenas lá... Bill Raio Beta. A saga foi publicada num já distante 2005 e, pelo que sei, não viu e nem verá a luz do dia em terra brazilis. É uma pena, mas neste caso até entendo ter ficado na malha fina da priorização.
Apesar da tensão e do empolgante delivery de UFC cósmico, padrão em qualquer narrativa envolvendo Galactus na hora do almoço, o nível da trama vai caindo vertiginosamente nas curvas finais. E, pior, culminando numa conclusão sem sal e nitidamente feita sob encomenda. Contudo, o saldo final ainda é positivo, no que considero como sendo o highlight um recurso há muito esquecido pelo Depósito das Ideias: a mítica e a representação visual de Galactus variando de acordo com cada povo desse universão afora.
Galactus é conhecido pela cultura korbinita como Ashta, o deus da destruição. Esteticamente, é a personificação dos medos primais e subconscientes daquela raça: um pesadelo lovecraftiano espacial.
Nada como um pouco de abstração. Nunca enxerguei Galactus como um dos seres conceituais da Marvel. Apesar de ser membro honorário do clubinho da Conflagração Astral, o devorador de mundos tem uma agenda menos gerencial e mais empreendedora. Mas certamente é uma entidade que existe em incontáveis níveis de complexidade acima da leitura informacional que nossa percepção consegue dar conta. Demais para o sensorial humano, assim como é demais para o de qualquer outra raça de mortais inferiores. O que fica até barato, visto que esse mero vislumbre poderia desencadear uma total reversão protônica ® no meio dos bagos do observador. Até Ann Nocenti, na época viciada em chá de Santo Daime com guaraná Dolly, sugeriu essa sacada quando escreveu uma luta entre Mefisto e o Surfista Prateado numa aventura do Demolidor (!).
Seguindo mais adiante nessa linha, não só a visão, mas basicamente qualquer ato de um ser dessa magnitude deveria ficar muito além da compreensão humana. Da mesma maneira rotineira e impessoal com que lidamos com gravidade, atrito e aceleração, ele lida com antimatéria, buracos de minhoca, retrocausalidade, Entrelaçamento Quântico, Flecha do Tempo, Efeito Túnel, Teoria-M e dá-lhe quarks e bósons. Tudo isso e muito mais seria altamente aplicável no confronto entre Galactus e o Esfinge naquela história clássica de Marv Wolfman. Mas esse pênalti ele chutou lá pra arquibancada.
Seja como for, a ideia em si é acima de tudo providencial. Só assim pra explicar como uma entidade cósmica anterior ao Big Bang não só é antropomórfica, como também tem a aparência de um opressor caucasiano de meia-idade.
Créditos históricos para John Byrne, que propôs esse artifício em 1984, durante sua antológica passagem pelo título do Quarteto Fantástico.
Pena que não combinaram com o pessoal da editora Abril, que apagou justamente os dois recordatórios que explicavam a porra toda.
Complicar pra quê, não é mesmo?
4 comentários:
Esse tipo de tradução onde há até mudanças n sentido da história é comum na Abril?
Peraí, no original, aquelas figuras todas seriam o próprio Galactus em diferentes formas, mas na versão nacional seriam vários alienígenas olhando para o Galactus?
Hahahahaha, porra Abril!
Pedro, cortavam páginas inteiras pra caber no mix. Mas era só o aperitivo. O crèam de la crèam era quando apagavam/incluíam/substituíam personagens pra maquiar a diferença de cronologia entre os títulos. Tudo isso com retoques típicos de alguém com 3 anos de idade.
Dá uma olhada nesse artigo do MdM:
http://forum.outerspace.terra.com.br/index.php?threads/das-antigas-quando-a-abril-redesenhava-as-revistas-e-mudava-a-historia.203150/
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Raid, desconfio que o "Efeito Galactus" era tão poderoso que mexia até com os redatores da Abril!
Retro-atualização:
http://web.archive.org/web/20110320195659/http://www.interney.net/blogs/melhoresdomundo/2010/12/10/das_antigas_revistas_rabiscadas_de_fabri/
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