quarta-feira, 18 de março de 2015

Supergirl next door


E chegamos à Melissa Benoist como a nova Supergirl. Minha 1ª impressão, igual à de todo mundo. Bonitinha, mas... de uma certa inadequação. Não sei bem por que, mas soa algo paródico. Parece atriz de sitcom sem claque fazendo cosplay de Supergirl para algum episódio nerd. Fosse Alison Brie, Tina Fey ou Anna Chlumsky provavelmente eu teria a mesma sensação. Laura Vandervoort, com trajes mínimos e umbiguinho de fora, transmitia mais seriedade, mais intensidade no olhar.

Mas se a adaptação for alternativa e a proposta for uma Supergirl leve e jovial, de uma ingenuidade Pollyanna, à Mary Marvel... é exatamente isso que as imagens me transmitem. Golaço. Como casar isso com um bg sci-fi trágico e wagneriano são outros quinhentos...

Da atriz propriamente dita, não tenho do que reclamar. Em Whiplash: Em Busca da Perfeição, ela mostrou que manda bem no drama. E na 1ª temporada de Homeland mostrou que manda bem também em outros departamentos. Além do jeitinho de vizinha adorável que todo mundo gostaria de ter.

Nos quadrinhos, sempre que vejo a Supergirl, vejo uma oportunidade perdida. Com exceção dos formatinhos pré-Crise publicados pela EBAL e pela Abril, onde ela agia como uma irmã mais velha e superprotetora do Azulão e, claro, da nossa essencial Supergirl da Terra-2, o maior contato que tive com a personagem foi relativamente recente, na revista do Superman pré-Novos 52. O gibi da Panini funcionava como um point kryptoniano e as histórias da Supergirl vinham no mix como um brinde ruim.

Eu lia aqueles roteiros pavorosos e não conseguia parar de pensar no desperdício. Quer dizer, o sujeito tem nas mãos uma personagem com a origem e os poderes do Superman e nem 1/10 das amarras editoriais. O céu seria o limite. Nessas horas é que costumam surgir os novos Ellis, Millars e Morrisons. Mas a cada ideia tosca que aparecia, um fantasma doppelgänger do Alan Moore sussurrava no meu ouvido a velha máxima do "não existe personagem ruim".

Os recursos narrativos são infindos. Os mais batidos: sua adaptação à Terra - eterna enquanto for divertida - e o fato de ser um raro personagem (arram, descontando a população da cidade de Kandor e o contingente-jumbo da Zona Fantasma) que realmente viveu em Krypton e guarda memórias ainda vívidas dele. E o trauma de tê-lo perdido, junto com toda a sua vida lá.

Esse drama, pesadão aliás, rendeu bem em Smallville. Ora, se a Laura Vandinha, que não é nenhuma Bette Davis, soube aproveitar, então a Melissa tem obrigação de sambar em cima dessa premissa. Só resta mesmo saber o que disso tudo vai pra tela. Ou se nada.

Bônus de cima pra baixo:

* Helen Slater como a mãe adotiva é uma bela supresa pra quem babava por ela quando guri e não perdia as reprises de Supergirl e A Lenda de Billie Jean (presente!);

* Dean Cain, o Super-Hombre latino, fazendo o pai adotivo parece interessante e não mais - preferia se a Slater fizesse casal com a Teri Hatcher;

* Jimmy Olsen negão, sinto muito, defensores de cotas, mas não é assim que se faz. E afro-americanamente falando, é um tiro pela culatra;

* Série da Supergirl sem Superman é apenas um sintoma da imensa trapalhada que a Warner insiste em sustentar. A presença do produtor-executivo Greg Berlanti (de Arrow e The Flash) até facilitaria um crossover heróico em algum nível, mas como a Warner está produzindo a série para a CBS, melhor não contar com isso. Acho que só uma Crise nas Infinitas Salas de Reunião resolveria a bizarra lógica interna da Warner.

Rumo ao recorde de impressões preliminares de um mínimo de material? Tamo junto.

5 comentários:

Luwig disse...

Concordo em gênero, número e grau em quase tudo que você disse, meu chapa, mas dentre a vasta galeria de equipes criativas que estiveram a frente das histórias de Kara, pelo menos uma, me chamou a atenção: Sterling Gates & Jamal Igle.

Pessoalmente, achei suas histórias muito acima da média, inclusive, se comparadas com a de 'gente de casa' como Greg Rucka ou James Robinson durante toda a Saga do Novo Krypton. Minha trama favorita foi, sem dúvida, o conto "Seleção de Guilda", publicada em Universo DC 2ª Série - n° 04 (e originalmente em Supergirl #43).

Se me permite, ouso até dizer que os enredos de Gates encerram a melhor fase da personagem, que só não foi, de fato, antológica porque o desfecho de Novo Krypton, no geral, foi um "Borra Botas" que saiu distribuindo aleatoriamente Roundhouse Kicks em mach 20 em todas as revistas de aço.

Sobre a série em live-action, o que posso dizer é que, sinceramente, não me surpreenderia se saísse algo de bom dali. Pois, depois que Arrow e Flash superaram todas as expectativas e, quem diria, a segunda vem sendo um agradável - e interminável - fanservice, entregando um vilão - o Flash Reverso - que roubou para si o programa, as apostas não poderiam ser melhores! A verdade é que, novamente, a DC vem vivenciando outro momento glorioso nas telinhas, dessa vez com esses seriados*.

(*) Excetuando, quem sabe, o show do Constantine?! Como ainda não concluí sua - única?! - temporada,estou ainda dividido nessa...

Luwig disse...

Só complementando...

Gostaria de entender - melhor não?! - a Warner. Eles sabem que têm bons produtos em mãos, conhecidos e reconhecidos por seu público, mas preferem ignorar isso, investindo em narrativas paralelas no cinema. Afinal, do jeito que estão construindo Arrow e Flash, meio caminho já foi percorrido, poupa-se tempo e dinheiro com arriscadas histórias de origem, novos castings e já se têm todo um background estabelecido, bem como uma audiência se dirigindo em peso para os cinemas. Se Dawn of Justice pretende entregar Clark, Bruce, Diana, Arthur e Vic, esses seriados poderiam fornecer ao menos Barry, Ollie e Dinah. O eventual filme da Liga só viria a acrescentar o Hal e, mesmo assim, seja ele chulo ou não, eu ainda assim não jogaria o tosco filme de Ryan Reynolds num construto de lata de lixo. Faria o que a Marvel fez com o Hulk de Norton, seguindo em frente com Ruffalo.

doggma disse...

Fala, Luwig!

Então, meu amigo, realmente a passagem de Gates/Igle sai ilesa a maiores chamuscadas. O problema é que até chegar lá tivemos que passar pelas fases do Joe Kelly (que nem acho um roteirista ruim, mas deve ter colocado o sobrinho de 4 anos pra fazer esse serviço) e do Kelley Puckett, que, além de terrível, foi interminável. De quebra, coisas como o Ale Garza no traço. Urgh.

As únicas exceções foram os arcos bacaninhas do Tony Berdad ("O Ataque das Amazonas" e "Reunião") com a arte sensacional do Renato Guedes, fácil um dos melhores desenhistas que a Supergirl já teve.

Vou procurar esse conto que saiu em Universo DC. Valeu a dica.

O Reverso roubou a cena e ainda ficou melhor de uniforme que o Flash! Única coisa deslocada ali foi do núcleo "atômico": tanta coisa pra terminar num Homem de Ferro wannabe?

Sobre Constantine, caí na besteira de ver aquele péssimo piloto beta test. Depois até baixei os episódios oficiais, mas ainda não bateu vontade de ver. Muita vontade de combinar o Shift com o Del e dar um rat-tat-tugen nos arquivos. Por favor, me avise se alguma coisa se salvar.

Mas concordo contigo. Tirando um detalhe ou outro, a Warner vai surpreendentemente bem com suas séries. Mesmo desvirtuando todos os personagens e segmentando TV e cinema em universinhos separados. Até Gotham, que a esmagadora maioria detesta, é bem divertida (mas eu não apostaria em uma vida longa e próspera). Acho que o talento individual dos envolvidos ganhou todos os pontos aí, à Geoff Johns trabalhando sob pressão mercadológica.

"seja ele chulo ou não, eu ainda assim não jogaria o tosco filme de Ryan Reynolds num construto de lata de lixo. Faria o que a Marvel fez com o Hulk de Norton, seguindo em frente com Ruffalo"

E ninguém reclamou de Vingadores por causa disso, né. Nesse ponto é onde moram todas as diferenças entre a Marvel Studios e Warner: uma acredita no seu público, a outra não.

DC e a Warner têm o mundo nas mãos e não sabem. Putz...

Luiz André disse...

Sem querer entrar de gaiato na história, mas já buscando um espaço sob o sol, vi que esta série da Supergirl pode se relacionar com as séries da CW, ou seja, o rumor de que uma Liga da Justiça nas telinhas - a estrear antes do "big movie" - começa a tomar corpo e se adicionarmos que a nobre CW, pensando em aproveitar esta verve super-heroística antes da saturação já anunciou um spin-off com Elektron (ainda é estranho chamá-lo de Atom), a dupla Capitão Frio e Onda Térmica, mais a falecida-só-que-não Canário Negro e mais três personagens que nunca ganharam uma versão live-action antes. Só por estas informações é possível imaginar inúmeros rumos e personagens a serem acrescentados no panteão da DC televisiva.
Sem o lançamento (nem um mísero teaser) de "Batman v. Superman - A Justiça Está Chegando" (hehehehe...), o que sobra são as eternas comparações entre o modelo de se fazer cinema da distinta concorrência, vulgo Marvel, e os fracassos homéricos da DC nestes territórios só desbravados por Christopher Nolan neste século que nos abrange. Creio que há mais esforço em se criar um universo coeso na TV e apoio a ideia da separação de casas - TV e Cinema - porque, por um lado, reflete uma das maiores características decenauticas que é a realidade dos multiversos - sim, sei que o público civil fica a ver navios, mas isto é um fan service que vai um pouco mais além. Por outro lado, fico pensando que a inserção do Arqueiro Verde e Flash das séries no cinema poderia quebrar um pouco a dinâmica mítica-arquetípica da Liga, já que é notório que este Arrow está mais para Batman do que para Oliver Queen, bilionário boa praça e esquerdista ferrenho. E quanto ao Barry, ele soa mais como Wally do que o Flash da Era de Prata que sacrifica-se por todos na Crise nas Infinitas Terras. O próximo filme da Warner será o game changer, o tudo-ou-nada para a DC: será a resposta contra a Marvel ou a descida halleyana ao buraco negro da construção de um universo cinematográfico - ou pode ficar meio-a-meio e, com a agenda já publicada, eles continuem a produzir mas sem o estardalhaço da Marvel. Veremos o que o amanhã nos reserva...

doggma disse...

E aí Luiz! Somos todos gaiatos nessa história, meu amigo, rs.

Bacana essa sua visão compartimentalizando as séries e os filmes como se fossem o multiverso DC. Sou um pouco mais pragmático em relação à perspicácia da Warner. Isso até parece fan service, mas foi puramente involuntário. Acho que o board executivo da Warner não saberia o que é um multiverso nem se tropeçassem em um.

"a inserção do Arqueiro Verde e Flash das séries no cinema poderia quebrar um pouco a dinâmica mítica-arquetípica da Liga"

Penso um pouco diferente. Só porque o Bat-Arrow da série e o Bat-Affleck do cinema habitam o mesmo universo eles não necessariamente teriam que entrar em rota de colisão, disputar o arquétipo. Ou mesmo se encontrar. Cada um tem sua própria agenda.

Além disso, é um mundo gigantesco aquele, funcionando em várias camadas. Ollie chafurdando em Starling City/Nanda Parbat/Lian Yu. Bruce dominando Gotham e ocasionalmente subindo pela estratosfera para confabular com os deuses. Uma mera citação ou insinuação sobre a existência de cada um já seria mais que o suficiente. Vide a já antológica fala do Wesley Owen no último trailer do Demolidor:

"Maybe if he had an iron suit or a magic hammer..."

E já é fantástico o bastante. Longe de querer que o Demolidor largue a Cozinha do Inferno para sair com os Vingadores por aí.

Mas só vendo mesmo. Torço muito pelos próximos projetos cinematográficos da DC, mesmo com tudo o que sei de cinema e HQs gritando que tá tudo errado.

Abraço!