terça-feira, 2 de outubro de 2018

Adiós, viejo maestro!


Carlos Sanchez Ezquerra
(1947 - 2018)

Vivemos hoje a realidade que nunca queríamos que chegasse. Dia após dia e com pausas impiedosamente curtas, vemos a partida de artistas cujas obras não apenas nos acompanharam por uma vida como nos fizeram crescer enquanto indivíduos pensantes, apaixonados e inconformados. Nos últimos dias, só na música, foram Otis Rush, Angela Maria e Charles Aznavour. E nos quadrinhos, Marie Severin, Gary Friedrich e Norm Breyfogle... Sem falar no quadro de saúde delicado do nosso Ziraldo.

A coisa toda parece obedecer um timing sádico do destino: os grandes estão dando adeus justo quando este mundão anda cada dia mais chato e intolerante. Os mestres estão indo embora e não há ninguém para segurar o bastão. Ou para apagar a luz.

E dessa vez, o grande Carlos Ezquerra. Que, pelo visto em fotos mais antigas, fumava igual um caipora. O resultado foi aquela velha doença no pulmão e uma luta de 10 anos contra ela.

Natural de Zaragoza, Ezquerra iniciou a carreira em HQs espanholas de romance e guerra (bela combinação). Em 1973 se mudou para Londres, onde fez trabalhos não-creditados para a veterana The Wizard, chamando a atenção de Pat Mills e John Wagner - dois nomes que mudariam a sua vida e vice-versa.

Não é exagero afirmar que Juiz Dredd e Strontium Dog, suas criações ao lado de Wagner, eram a cara da 2000 AD. O próprio Ezquerra era um símbolo daquela transgressão artística. E influência seminal, visivelmente impressa no trabalho de artistas tão diversos quanto John McCrea, Frank Quitely, o saudoso Steve Dillon e muitos outros.

Ezquerra sempre teve respostas simples para perguntas (desnecessariamente) complexas. Preferia Johnny Alpha ao Juiz Dredd e tinha como referências Hugo Pratt, Alberto Breccia, Moebius, Milton Canif e Alex Raymond. Construiu uma bibliografia tão brilhante quanto extensa, mas gostaria de ter descoberto que sua "real vocação era contar nuvens numa praia tropical com uma margarita nas mãos."

E só ele mesmo - amante dos clássicos Os Doze Condenados e Sete Homens e um Destino - teria a iluminação divina de transpor a figura icônica de James Coburn para os quadrinhos da IPC, ainda no período pré-2000 AD.

Primeiro, com o anti-herói de guerra Major Eazy e depois, com Slippery Jim, da série The Stainless Steel Rat.


A uma altura dessas, o próprio Coburn deve estar lhe retribuindo a homenagem com várias daquelas margaritas...

4 comentários:

Henrique Guerreiro disse...

Pra variar, belo texto, Doggma.

E não consigo deixar de pensar que é o segundo artista a trabalhar com o Garth Ennis que se vai, fora que o Glenn Fabry tá com câncer de, advinha, pulmão!

doggma disse...

E aí, Henrique!

Ah não, cara, o Glenn Fabry também?! Será o catzo?

Marcelo Andrade disse...

Esses ultimos anos estão apocalipticos artisticamente dizendo.... :(

doggma disse...

Falou/escreveu tudo, Marcelo... artisticamente apocalípticos em todos os sentidos da expressão! :´/