quarta-feira, 7 de julho de 2004

THE ULTIMATE FINAL WAR


Hell yeah... Chegar ao final da saga percorrida pelos Supremos é quase uma experiência extra-sensorial acompanhada de 20ml de ácido lisérgico. Lembra dos 15 minutos iniciais de O Resgate do Soldado Ryan? Pois é, aqui também parece que você está bem ali, no meio do front, com estrondos, blocos de terra voando pra todos os lados, e forças sobre-humanas devastando tudo ao seu redor. O caleidoscópio gráfico de Bryan Hitch é tão vasto quanto ensurdecedor (sério, dá até pra ouvir os barulhos!). Realmente não consigo lembrar de outro desenhista que saiba retratar a idéia de imensidão com tamanha eficiência. A perspectiva é tão próxima da realidade que você chega a calcular instintivamente a distância entre os objetos enquadrados. Se Stanley Kubrick fosse quadrinhista, com certeza ele faria parceria com o Hitch.


Já o "homem do espírito ultimate", Mark Millar, talvez por ser a reta final, está bem menos falante, mas nem por isso menos provocador. Sua metralhadora verbal detona tudo pela frente e é responsável pela tirada mais sacana que já li em todos esses anos de HQ. Aliás, a cena é justamente essa aí do Rogers, no auge da batalha (De Gaulle deve ter se remoído na tumba).

E por falar no Capitão América Ultimate, vale uma observação. Todo mundo sabe que o cara é O Fodão (e é mesmo), mas aqui ele eleva à milésima potência tudo o que o diferencia de sua versão original. Ele está muito mais manipulador, violento, trapaceiro e impiedoso. Além protagonizar cenas pra lá de carniceiras, seus estratagemas e maquinações influem diretamente nos rumos da guerra. Seu lema aqui é "os fins justificam os meios", ou seja, o cara está um tremendo filho da puta (certamente esse personagem é um auto-retrato do próprio Millar).


As ótimas seqüências de batalha aérea são um mérito particular de Hitch, e lembram bastante a época em que ele trabalhava no The Authority. As naves-mãe dos Chitauri (Skrulls ultimates) são gigantescas e as naves-caça lembram muito o design usado em filmes de ficção-científica dos anos 50, especialmente no clássico Guerra dos Mundos. Mas quando entram os F-116, os Harriers e todo o contigente de caças de guerra norte-americanos, a referência imediata é Independence Day. Dinâmica mais cinematográfica, impossível.


O líder Chitauri foi uma surpresa pra mim. Ele realmente não é "só" aquilo que aparenta ser, o cara é um paredão ambulante e dá um senhor trabalho. Ele faz o tipo "invencível", numa espécie de mistura de T-1000 com Sr. Sinistro (um inimigo dos X-Men), com força nível 90 e um fator de cura à Lobo/Wolverine (putz). A seqüência em que ele encara o Capitão no mano a mano é uma das melhores lutas que já li.

Aliás, confesso que a primeira vez que ele apareceu na saga, achei que se tratasse de uma versão ultimate do Caveira Vermelha, um inimigo pré-histórico do Capitão (até que não seria nada mal também).


Como se não bastasse, os Supremos ainda têm de se virar contra um Hulk Ultimate, com ênfase no Ultimate. Lembra daquele estrago que o monstrão fez em Manhattan? Aqui ele repete a coisa toda, só que em versão giratória. Sobra porrada pra Supremos, Chitauri, Exército, agentes da SHIELD, enfim, todo mundo. Se desse pro Hulk porrar o Banner ele porrava também. E, como não poderia deixar de ser, o humor "fino" que caracteriza essa versão do Hulk também está aqui, e num momento-chave da trama. Trata-se de uma seqüência antológica entre o gigante cinzento e o Rogers...


Os demais Vingado... hã, Supremos estão lá também e em ótima forma. Tony Stark se supera e se aproxima do poderio o qual nos acostumamos em sua versão original, Thor mostra por que é o Deus do Trovão e manda nos combates aéreos (cenas alucinantes), Clint Barton - cool as ice - sempre no lugar certo e com a flecha certa (merecia uma série solo) e a sensacional Natasha Romanov, metralhando traseiros chitauri e exibindo aquela destreza à Matrix (ela está a cara da Scarlet, do G.I. Joe).


A imersão é tanta que o final dá uma sensação de "missão cumprida" também no leitor (pra mim deu, pelo menos) e soa como um merecido repouso para ambos os lados. E também não deixa de ser melancólico, pois o parto dessa série foi complicado (atraso por parte de Hitch e abandono por parte de Millar), o que torna seu retorno bastante improvável - pelo menos, não com o time original.

Fica então a lembrança de mais uma dupla que deu certo, ao exemplo de Claremont/Byrne, Lee/Kirby, Waid/Ross, Miller/Miller, entre outros. E, claro, a certeza que The Ultimates é clássico imediato.


No Brasil, ainda faltam dois capítulos (o #12 e o #13 americanos) a serem publicados pela Marvel Millennium. Esperei... :)

2 comentários:

Luiz André disse...

Achei engraçado não haver nenhum comentário sobre este primeiro ano de Supremos, uma vez que é indiscutível que o filme dos Vingadores bebe do gargalo toda a aura da formação do grupo mais alguns detalhes que quem leu consegue pescar ao assistir à película. Por mais que a história dos Vingadores seja, em comparação com a profundidade da cronologia, tão extensa quanto a dos X-Men, os produtores sempre pensam em transpor para os roteiros o que é atual ou que não demande um conhecimento enciclopédico da história dos Vingadores. Com o sucesso e a data para a sequência, só espero que consigam transitar entre o velho e o novo e que não se deixem levar por esta onda maligna de reboots, remakes, prequels e histórias pregressas aletatórias e posteriores que, em um momento tentam chamar a atenção para novos leitores e afasta os mais velhos de guerra com o mesmo ato. No mais, esta história é incrível e poderia ser uma excelente sugestão para filme caso Joss Whedon não fosse um geek de HQs.

doggma disse...

Certamente. Mas não custa sonhar com uma adaptação integral. Os dois primeiros volumes dos Supremos merecem mais do que uma compilação de referências. Mas se tudo seguir conforme o sugerido, o próximo filme deverá ser bem mais 616 que Ultimate.

Só nos resta reler as sagas clássicas do Thanos de Jim Starlin. As referências possíveis ali linkam simplesmente a estrutura inteira do Universo Marvel. E Whedon não vai perder a oportunidade...