quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

A Saga da Crise nas Infinitas HQs


Ainda não foi dessa vez que a bolha do mercado nacional de HQs estourou. Mas que houve uma estremecida esquisita entre o final de 2015 e este início de 2016, isso houve. E não vindo apenas das editoras, mas também da distribuição, que, por padrão, atrasa tanto quanto antecipa títulos, mas que agora parece ter batido um recorde do caos.

A programação dos lançamentos foi implacável: tijolões de Crise nas Infinitas Terras, A Saga da Fênix Negra, A Liga Extraordinária: Século e as incessantes coleções da Salvat, Eaglemoss e DeAgostini se embolando com arrobas de edições de dezembro que só há pouco aportaram em bancas e lojas. Isso sem mencionar aquisições indie fora da curva, carinhosamente garimpadas em nome de uma coleção com a cara do dono.

Resultado: janeiro foi meu mês mais $obrecarregado desde que passei a registrar a experiência. Sentei o dedo nessa porra.

O problema da quantidade deixou de ser dos mixes mensais para ser dos encadernados. Especialmente agora, com a chegada do material dito "clássico" às graphics da Salvat, onde o aproveitamento por edição foi elevado substancialmente. Histórias antes relegadas às edições adulteradas da editora Abril finalmente publicadas com acabamento digno - embora não na ordem ideal, cronológica, proposta já sepultada pelo naufrágio das linhas Biblioteca Histórica Marvel e Crônicas, da DC.

Mesmo assim o paliativo é saboroso. Quem não fazia a coleção inteira e dava graças a Crom por isso, pode passar a carteira - e já viu a extensão #11, Contos de Asgard, que coisa linda e irresistível? Bem dizia aquela máxima dos filmes: "cuidado com o que deseja".

Das editoras menores, apenas a Mythos e seus minions cantoneses parecem manter seu nicho de mercado. Muito disso é culpa de um certo ranger texano e seus, até ontem, 11 títulos regulares variando entre almanaques em formatinho preto e branco e trade paperbacks coloridos gigantes. Ele e um bárbaro cimério contam com uma vantagem sobre seus pares da 9ª arte: um público informal não segmentado que já foi mais forte em tempos idos.

E que, aliás, segue como fonte de piadinhas infames recorrentes...


O público original de Tex e Conan no Brasil

Uma das consequências imediatas desse boom quadrinhístico são os relançamentos dos títulos mais populares num curto espaço de tempo em relação à publicação original. É uma tática predatória cujo reflexo é sentido nas linhas mais baratas, como os mixes, e que não parece projetar algo positivo a longo prazo.

A base desse mercado, afinal, é o cronograma mensal, popular, não o das "edições definitivas". Do mesmo jeito que ocorre lá fora.

Mas cá estou eu com a minha coleção de Capitão América & Gavião Arqueiro fechada recentemente...


Voei perto do Sol com asas de pisa brite...

...me vendo estranhamente acostumado com a aquisição do encadernado do Clint Barton.


Mais um dia no escritório da repetição. Algo tão óbvio assim só senti com a minissérie Grandes Astros Superman e sua edição TP. E olha que elas tiveram 4 anos de gap.

Pelo menos o Cap de Rick Remender foi divertido. Será que vai ter encadernado também?

Levi Trindade, editor da Panini, não parece nem um pouco preocupado: segundo ele, a agenda de relançamentos vai seguir em ritmo industrial em 2016. Entre a avalanche de mangás e a ótima Maravilha de Brian Azzarello e Cliff Chiang, a reedição com o melhor timing periga ser a de O Imortal Punho de Ferro, da abençoada dupla Ed Brubaker/Matt Fraction.

Não apenas pela série live-action que se forma no horizonte, mas também por um dos meus exemplares de Marvel Apresenta. Das três edições onde a série foi publicada, entre 2008 e 2009, as duas últimas nunca saíram do plástico. Já a primeira...


Papel que não respira vive melhor...

Acho que isso soluciona algumas polêmicas colecionistas.


* * * * *


Esse post subiria no finalzinho de janeiro e foi prorrogado para o fim do Carnaval, mas não tive como deixar passar algumas coisas que foram surgindo. Principalmente porque o assunto parece bastante ligado ao tal "ritmo industrial" dos relançamentos de luxo que a Panini vem imprimindo de uns bons tempos pra cá.


Crise nas Infinitas Terras e X-Men: A Saga da Fênix Negra, sem maiores apresentações, excetuando os preços: 115 e 85 reais, respectivamente. Considerando cenário econômico, importância das obras, projeto gráfico e material extra (em especial, o de Crise), justo, muito justo. Justíssimo.

O problema é que foram dois lançamentos de grande porte evidenciando profundas deficiências de revisão da editora. Ainda não li - ou revisei, rá. Me limitei a conferir se constavam lá os erros noticiados via Facebook, YouTube, fóruns e blogs, talvez, na esperança de ser uma falha isolada a alguns lotes da gráfica. E pelo jeito, não foi.

Em A Saga da Fênix Negra já virou famosa a cena do Wolverine e suas "gatas de adamantium".


Agora a perna de pau do Wolvie na Salvat respira um pouco mais aliviada.

Mas o pior veio algumas páginas antes.


Terrível.

A revisão de Crise nas Infinitas Terras também "não faz feio" com dois diálogos trocados que, se não trazem nenhum prejuízo às tramas principais, no mínimo bagunçam completamente a cena.


Nada, nada, um erro que nem a Abril e suas traduções la garantia soy yo cometeram.

Questionado sobre o caso nos comentários do Distopia Cast, novamente Levi Trindade, sempre boa-praça e solícito, não desconversou e pareceu genuinamente surpreso com os erros.

Segue o trecho.



+distopia cast Valeu, pessoal, já assisti e foi mesmo bem legal. Parabéns! Agora quero dar uma sugestão  de tema para os próximos papos como Levi e o pessoal da Panini: traduções e revisões. Está cada vez mais assustador a quantidade de erros bizarros nas traduções do material da Panini, inclusive nos deluxe que custam uma fortuna. Desde letras falatando na capa até balões inteiros em branco ou com texto errado (recentemente encontraram problemas na Saga de Fênix recém-lançada). As CHM (editadas pela Carol, se não me engano) vem com erros grosseiros de português, dignos de quem não entende nada de gramática e ortografia (é burrice mesmo, e não "erro de digitação"). Acho que isso valeria um especial, pois tá sendo sistemático o problema e tá ficando difícil a situação! Valeu e, no mais, continuem fazendo o bom trabalho (e evitando as coisas "sem nexo" que de vez em quando aparecem, hehehehe)!

+joaqquinno Oi, joaquuinno. Muito obrigado pelo seu comentário. Realmente, ocorreram algumas falhas e já conversamos com as pessoas responsáveis. Sobre o caso do livro da Fênix Negra, recebi um contato via nossa página no Face de que havia uma página duplicada, mas nas edições que recebemos da gráfica isso não ocorreu. Então, peço que, se possível, caso você tenha uma edição com esse problema (que é muito bizarro), que encaminhe fotos das páginas em questão pro pessoal do Distopia Cast e depois eles enviam pra gente, beleza? Até agora, não encontramos nenhuma edição com esse problema, mas se houver ela será trocada. Porém, se o problema for outro, por favor, nos informe também. No ano passado, tivemos um problema na gráfica com a reimpressão de Cavaleiro das Trevas. Magicamente, em uma página, alguns balões ficaram em branco. Porém, os arquivos em PDF estavam corretos e eram os mesmos que a gráfica tinha recebido. A gráfica, neste caso, se responsabilizou pelo ocorrido (apesar de não ter conseguido explicar satisfatoriamente o ocorrido, já que apenas alguns balões da página estavam em branco, enquanto que outros continham textos normalmente) e reimprimiu toda a tiragem do livro novamente. Nós efetuamos a troca para todos que compraram. Antes disso, já tínhamos suspendido a distribuição e solicitado a devolução para as livrarias e lojas que haviam recebido o livro. No caso de Liga da Justiça: Origem, houve reimpressão do livro e todos que compraram o livro com o erro de digitação na lombada tiveram o livro trocado. Sobre os erros de tradução e revisão, estamos pegando bastante no pé da galera que cuida dessas áreas, mas algumas coisas andaram passando. Vamos reforçar o cuidado nessa questão. Um forte abraço, Levi Trindade Panini Comics


E foi isso aí.

Até posso relevar a troca dos balões de Crise - a rigor, o mesmo erro pavoroso constante em Sandman - Edição Definitiva (volume 1, pág. 343). Que é frustrante visto de modo isolado, mas que, no conjunto, não ofusca o fato de que é uma belíssima e imperdível edição. Isso se não encontrarem mais vacilos cabulosos, lógico.

Já os erros de Fênix Negra, ao meu ver, configuram com louvor os requisitos para um recall. Penso que são falhas tecnicamente bobas, porém pontuais. E traçam um cenário interno grave que só pode ser explicado pela completa ausência de revisão (que, em tese, é composta por várias etapas redundantes com mais de um profissional envolvido), possivelmente causada por contenção de gastos ou por alguma deadline ambiciosa - ou coisa pior, para os conspiradores de plantão.

Não consigo acreditar que foi apenas incompetência coletiva. Sem ironia.

Pretendo acompanhar os desdobramentos disso. Vou cornetar nos perfis da editora, cutucar por e-mail, enviar as fotos e tudo o mais. Recomendo a todos a mesma atitude. Se surtir efeito prático, também vou querer um novo corrigidinho e nos conformes. Se rolar só umas desculpinhas, bem... não vou ficar mais pobre por causa disso. Mas vou ficar mais chato.

Por hora, está inaugurada oficialmente a tag Porra, Panini! aqui no BZ.

6 comentários:

Do Vale disse...

A distribuição foi zoada mesmo entre dezembro e janeiro: aconteceu de 2 ou 3 semanas sem nada que eu comprasse e então chegava tudo de uma vez. Pesado. Tenho me REBOLADO pra escolher o que pegar e deixar passar pra pedir depois pela internet. Foda que não consigo viver sem passar em banca e acabo (sempre) sacrificando algumas cervejas do fim de semana por esse ou aquele encadernado. Mas minha alma se apazigua quando viros as páginas, então tudo bem.

E a Panini desce a lenha sem pena: é Vertigo, é relançamento, é inédito ao menos encadernado... E assim, os armários, estantes e prateleiras Brasil vai ficando cada vez mais bonitas (e quase pra arriarem).Rapaz, e essa Saga da Fênix Negra com Proteus de bÔnus? Já tô me vendo pedindo esta porra.

Agora, um apelo de anos: cadê A Canção do Carrasco...?

Luwig Sá disse...

Epa! Não sabia que essa Fênix Negra da Panini traria também a Saga de Proteus. A ignorância é uma bênção por achar que dava para viver numa boa com a versão "perna de pau" da Salvat.

Sobre a quantidade de lançamentos nesse começo de ano, acho que o rombo no meu orçamento só não foi maior porque já havia comprado vários ítens obrigatórios em pré-venda. Lendas de Neal Adams e Astro City, por exemplo, desde agosto de 2015 já estavam garantidas.

Só espero que a "bolha" não estoure antes de ter a coleção completa dos HCs de Gotham Central. Se pensar direitinho, praticamente toda a Vertigo clássica já foi - ou está às vias de ser - concluída. Quer dizer, numa estante que já se tem Sandman, Watchmen, V de Vingança, Monstro do Pântano, Preacher, Hellblazer Origens/Infernal, Homem-Animal, Patrulha do Destino, Invisíveis, Fábulas, 100 Balas, Y, Ex Machina, Planetary... O que mais se quer da vida?* Acho que ficamos gananciosos, Dogg.

Quanto aos erros grotescos de ortografia, acho que nenhum dos recentes exemplos ainda bate aquela primeira tiragem da definitiva de Watchmen.

Sobre os clássicos, de cair galões lágrimas os Contos de Asgard e o do Doutor Estranho. Que venha agora o Nick do Steranko!

(*) Deixa que eu respondo: Escalpo!

doggma disse...

Do Vale, nem me fala nas cervejas do fim de semana... Se for entusiasta de uma artesanal então, vai padecer num paraíso de HQs e loiras geladas.

Rapaz, "A Canção do Carrasco" deveria ser relançada num MEGA-Omnibus Absolute com todas as páginas metalizadas e em 3D!

Luwig, no final das contas, "Fênix Negra" acaba sendo imprescindível mesmo por ser mais uma peça nesse tabuleiro complicado que é Byrne/Claremont em capa dura no Brasil.

Pessoalmente, não era muito de fechar pré-vendas. Era ótimo num a$pecto, mas na prática era também muita espera e incertezas na equação. Pra não falar em eventuais problemas nas tiragens iniciais. Agora, com esses descontões da Fnac com frete grátis, parei completamente.

Nem. Coloque. "Bolha". Na mesma sentença de "HCs de Gotham Central", pelamordedeus...

Ah, o Nick do Steranko... até hoje tenho a edição da Trieste marcada como Sonho de Consumo no Guia dos Quadrinhos.

Mas diga pra este pobre gafanhoto, que erros grotescos teriam aquela primeira tiragem da definitiva de Watchmen?!

doggma disse...

Ay caramba, vi agora. Doeu nas córneas. Ignorance is bliss...

Bernardo disse...

No aniversário de meu sobrinho de 5 anos dei a ele o encadernado de Batman: Silêncio. Não é que o moleque não parava de falar pra quem quisesse ouvir que foi o melhor presente que ganhou? E olha que o nível dos presentes estava bem razoável, e ele já tem tablet, xbox e cia. Depois meu cunhado contou que ele estava apaixonado pela Catwoman do Jim Lee. Ainda tem esperança pra essa bagaça que a gente curte!

doggma disse...

Caramba, que história sensacional, Bernardo. Valeu por compartilhar. Imagino o orgulho que bateu, mal cabendo no coração, rs.

Esperança há, esperança há!