segunda-feira, 13 de abril de 2020

Acabou Moreira


Cresci ouvindo a música de Moraes Moreira. Não porque eu procurava: era só passar em frente a qualquer tevê ou rádio ligados. Moraes era a personificação da cultura popular brasileira, sem fazer esforço. Nos anos 1980 era a trilha - involuntária que fosse - de qualquer feirinha de rua, de qualquer periferia, de qualquer Carnaval dentro e fora de época.

E isso tudo porque eu ainda peguei o bonde andando. No fim da década de 1960, ele fundou os Novos Baianos juntamente com Baby Consuelo, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão. Uma das melhores seleções já montadas na Música. Com Moraes foram apenas seis anos (a mil) que entraram para a História.

Redescobrir os Novos Baianos anos depois foi, para mim, como a "2ª vinda". Moraes deixou de ser a trilha incidental de todos os dias para virar objeto de culto. De estudo. De paixão pela música e seus trocentos significados.

Novos Baianos F.C. (Solano Ribeiro, doc, 1975)

"Na verdade, quando o Moraes estava nos Novos Baianos, nós dividíamos a direção musical. Eu acho que o Moraes foi e é a principal figura, centralizada, dos Novos Baianos, porque tudo nascia do Moraes. Eu tenho a maior convicção de falar isso, porque o Moraes tinha uma maneira de fazer música que era só dele. Ele pegava as letras do Galvão, que na maioria eram livros, não eram letras, e começava a destrinchar aquilo de uma maneira, tirava aqui, encostava ali e eu ficava observando aquilo. Ele foi uma grande escola para mim em termos de composição, porque hoje eu tenho um trabalho de composição também, que acontece dentro da minha história. Eu ficava colado com o Moraes o tempo todo e por meio desse relacionamento musical a gente desenvolveu essa coisa dos Novos Baianos, a direção musical dos Novos Baianos. Quando o Moraes saiu, em 1974, eu me senti um pouco sozinho, porque eu estava segurando uma onda em que, na verdade, todo mundo já sabia o que queria ser. Nessa época, eu chamei o Jorginho para me ajudar, meu irmão Jorginho Gomes, que é um músico extraordinário e me ajudou, ainda que os Novos Baianos mais agonizassem do que sobrevivessem nos quatro anos seguintes, com quatro discos, porque com a saída do Moraes ficou uma lacuna musical, dentro da parte de composição. O Moraes era aquele empuxo, a turbina que dava a largada para a gente chegar em cima e cada um colocar sua onda, mas a gente conseguiu sobreviver e fizemos bons discos, como o Caia na estrada…, que é um excelente disco. Com a saída do Moraes e o Jorginho em ajudando, a partir daí eu comecei a ser mesmo o diretor musical dos Novos Baianos."

– Pepeu Gomes.

Moraes Moreira, o líder musical de um grupo de exímios craques. Hoje o Brasil deu adeus a um mestre.

Muito obrigado por tudo, Moraes!

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