segunda-feira, 27 de abril de 2020

Os milhões do Brewster!

Hoje a Sessão da Tarde exibe o filme Tô Ryca (Pedro Antônio, 2016), adaptação do livro Brewster's Millions, que o digníssimo - e por mim, desconhecido - George Barr McCutcheon publicou em 1902. Gostinho de sinal dos tempos com ficha caindo em loop.

Na Sessão da Tarde da minha época, uma reprise que eu nunca perdia era justamente uma adaptação homônima do mesmo livro, batizada aqui Chuva de Milhões (Walter Hill, 1985), com John Candy e o genial Richard Pryor. Tecnicamente, já era a adaptação cinematográfica da obra, fora musicais e peças.

A premissa é a fantasia besuntada em óleo de 99% da humanidade: sujeito falido e sem perspectivas descobre que herdou uma gigantesca fortuna (que varia de filme para filme, atualizada pela inflação), mas para receber a bolada, precisa torrar uma pequena fortuna num curto espaço de tempo. O que é (muito) mais difícil do que parece.

A sensacional cena com Pryor e o grande Hume Cronyn (o Joe, de Cocoon, e marido de Jessica Tandy) é autoexplicativa.


Revendo hoje, Chuva de Milhões é um tanto irregular. O próprio Walter Hill, que nunca foi um cara de comédias, desanca a obra de sua filmografia e admite que ele e Pryor só fizeram o filme por, duh, dinheiro.

O ritmo descompassado engessa John Candy e aproveita mal o carisma singular de Pryor e o terço final é algo caótico. Mesmo assim, o roteiro adaptado de Timothy Harris e Herschel Weingrod (do ótimo Trocando as Bolas) tem seus momentos e uma boa amarração. E com certeza, é bem mais divertido que o padrão das comédias atuais.

Seria uma Sessão da Tarde certa, fosse hoje um dia qualquer há 30 anos.

Minha nossa...

2 comentários:

VAM! disse...

Adoro o "Mustache" Pryor!

A gente que nasceu no Brasil, não consegue ter a noção do sucesso dele num país muito mais segregador como a Gringolândia.

Sabe lá oque é um comediante afro-descendente desbocado, uma antítese da imagem "polidamente aceitável" cultivada pelo talentoso Sidney Poitier, conseguir atingir um patamar onde, ele se tornaria mais importante do que um ícone da Cultura de Massa como o Superman?

Ok... o filme, que tirando "a briga no lixão", não é lá essas coisas mesmo, mas isso dá uma dimensão do "black power" dele dentro da Warner.

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"Chuva de Milhões" é dos filmes que mais vi na vida, mas confesso que agora diante de sua explanação, fiquei com receio de assistir-lo novamente, já não o faço há pelo menos 15 anos...

Não quero estragar minha memória afetiva não, deixa quieto.

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Caso não conheça suas aparições no DOC "Wattstax" de 1973 são hilárias. Além dos méritos jornalísticos do mesmo, vale muito:

https://m.media-amazon.com/images/M/MV5BYjE1ODg3MjktNjM0YS00YzQ1LTkxZGYtMjMwNzY5M2ZkZWE5XkEyXkFqcGdeQXVyMTM3NzQ5NzQ@._V1_.jpg

Boas risadas,
VAM!

doggma disse...

"A gente que nasceu no Brasil, não consegue ter a noção do sucesso dele num país muito mais segregador como a Gringolândia."

Precisamente, VAM!...

Sempre adorei o Pryor, mas só há alguns anos fui conhecer sua história de vida - que é hardcore como poucas. Filho de uma prostituta com seu cafetão, cresceu em meio a traficantes e bandidos de toda espécie. Passou a vida às voltas com drogas, prisões e mulheres. Foi noivo até da deusa Pam Grier (mas a largou pra casar com uma jovenzinha que ele engravidou). Isso só pra começar...

Parafraseando o finado P.H. Amorim, Sidney Poitier "é um negro de alma branca" (ênfase no sarcasmo). Educado, elegante, alinhado. Pryor era o completo oposto. Bad boy total - mas era talentoso. Ou melhor, era um gênio.

Hoje fica claro que só fizeram o Super III pra fazer grana colocando o Pryor em gags toscas e humor físico, sem roteiro, nem nada. "Superman + Richard Pryor, o que pode dar errado?", devem ter pensado os executivos da Warner.

Ah, "Chuva de Milhões" vale uma revisitada, sim... Claro que nosso senso crítico mudou desde aquelas velhas Sessões da Tarde. É só desencanar e se divertir com o absurdismo da situação.

Não vi esse "Wattstax" ainda. Vou conferir o quanto antes. Valeu a dica, meu chapa.

Abração e excelente semana!