quinta-feira, 6 de março de 2025

DD volta ao trabalho


Demolidor: Renascido chega para assumir uma bronca de longa data da Disney+. Não é de hoje que o conteúdo Marvel da plataforma vem sendo hostilizado por uma legião insatisfeita de fanboys da editora – uns quatro ou cinco que gritam por 400 ou 500, em média. Entre as acusações, a de que a megacompanhia não teria cojones para lidar com o material urbano casca-grossa-macho-bagarai dos quadrinhos. Pois bem, só nos primeiros quinze minutos já tem mais porradaria e sangue do que em Pinguim inteiro. E no final das contas, só prova, pela enésima vez, que apenas isso não é garantia de nada.

É preciso louvar o esforço da Disney para agradar o público ao restaurar o Demolidor da Netflix enquanto sincroniza com os eventos do MCU. Charlie Cox e o Wilson Fisk de Vincent D'Onofrio já são habituées na nova casa e a produção reescalou a Vanessa da bela Ayelet Zurer e o sinistro Mercenário de Wilson Bethel. Tudo em nome dos bons tempos.

O resgate também incluiu, logicamente, a Karen Page de Deborah Ann Woll e o Foggy Nelson de Elden Henson. Eles voltaram. Mas não muito, só um pouco. Quase nada, pra ser franco.

O negócio é que recaiu sobre a dupla a decisão mais controversa deste início de temporada. Logo de cara. Quem conseguir passar por esta provação de última hora, será recompensado. De alguma forma.


Mesmo com inserções de CGI ruim, o tira-teima Oldboyesco entre Audacioso e Poindexter é eletrizante, visceral e sem freio. O tenso diálogo entre Fisk e Murdock num restaurante vem da excelente inspiração em De Niro e Pacino na cena clássica de Fogo Contra Fogo. A referência ao Justiceiro e aos desdobramentos daquele símbolo no mundo real não passou despercebida, tampouco. Cojones.

Outra boa sacada foi levar à trama o dilema legal do vigilantismo na figura do Tigre Branco Hector Ayala – papel póstumo do ator porto-riquenho Kamar de los Reyes, morto em 2023. Pra mim, pelo menos, foi uma grata surpresa: o Tigre Branco sempre foi um dos meus personagens B prediletos.

Problemas? Alguns de ritmo, sim. O Rei do Crime se candidatando/vencendo para prefeito nova-iorquino em velocidade de dobra, por exemplo. Da mesma safra do vilão dando entrada no xadrez e se tornando o rei do lugar em 30 segundos nos seus áureos tempos de Netflix. Deve ser algum superpoder de carisma setado no nível 11. Mas dá pra abstrair.

Principalmente quando o payoff são sequências como o cliffhanger do ep. 2. Uma catarse brutal e libertadora seguida da "Get Free" do The Vines na orelha. Puro exibicionismo.

Quero mais.

2 comentários:

Luwig Sá disse...

Acho que me habituei a tanta "nanotecnologia" e CGI ruim do MCU que confesso não ter percebido de imediato as tosquices na cena da cobertura. Alguns levantaram a hipótese - e um easter egg que dá muito na cara - de que Foggy sofreria o mesmo destino do personagem na fase de Ed Brubaker. Gostaria mesmo que fosse o caso, já que não basta a bola fora da morte abrupta de Phil Urich, agora ter que se virar sem o coadjuvante mais importante do Demolidor? Seu principal interlocutor e contraponto...?!

Nossa sorte é que, realmente, aconteceu muita, muita coisa nesses dois episódios, tanto que mal dá tempo de sentir a ausência dele. E logo mais ainda vai ter Frank Castle na parada... Mas se parar para pensar, esse excesso de protagonismo de Matt Murdock e Wilson Fisk pode dar muito errado.

A verdade é que eu torço p/ estar errado.
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Mais: Percebeu que Bendis está creditado como consultor? Tá bem telegrafado agora a trama do julgamento do Hector e, provavelmente, a do vazamento da identidade secreta. Por outro lado, quero ver mesmo se a produção vai ter bolas p/ repetir o trágico destino de Heather Glenn*. O Dennis O'Neil era um sádico FDP. Saudades eternas.

(*) https://legendary-digital-network-assets.s3.amazonaws.com/wp-content/uploads/2025/03/04024836/Daredevil-Heather-Glenns-death.jpg

doggma disse...

Então... a morte do Urich foi um absurdo. Mas por mais que goste do Elden Henson, não acho que o Foggy dele tenha sido desenvolvido além do "Demolidor, você precisa parar de ser o Demolidor". E nos gibis o Foggy quebrava essas convenções de coadjuvante sem cerimônia. Isto posto, achei errado não. Ainda.

Nanotech e CGI perneta serão os calcanhares de Aquiles do MCU pela eternidade. Ô troço preguiçoso. Em alguns frames, os bonequinhos de massinha digital estão piores do que os que o del Toro usou no Blade, lá por 2002!

De fato, a relação Fisk X Murdock corre o risco de saturar bem rápido. Sempre lembro da rivalidade Jack X Locke, de Lost, como começou e como terminou em termos de popularidade.

Denny O'Neil é o maior nome do vigilantismo urbano. O que o cara criou, reformulou e formatou ali não tem precedentes. Todo o resto veio na esteira.

Sobre o destino da Heather na série, tenho minhas dúvidas. Além da profissão, mudaram bastante o perfil dela. Pode ser mais uma Karen Page desse DD. Tomara que não.

Ps: confesso que urrei quando o Mercenário abriu os olhos após a queda no asfalto. Já visualizava isso em live action = https://ibb.co/JN3FcQ3

Pps: aí veio a cena do julgamento com ele inteirinho... :´(