sábado, 7 de agosto de 2004

JOÃO MINEIRO E MARCIANO




Parece que é consenso geral que World's Finest, o novo filme do Sandy Collora, promete. Principalmente depois daquele ótimo preview. É impressionante a capacidade que Collora tem de não ferrar com a mitologia de um super-herói. Batman Dead End já é clássico (só não sei bem em qual área... dos fan-films?), e pelas seqüências do teaser de WF, parece que outro filmão de fã está a caminho.

Todos estão empolgados. Eu estou, meu cachorro está, todo mundo da minha rua está. Nesse exato momento, Sandy Collora ganha qualquer eleição. Sugiro que cada fã compre 1 cota de ações da Time Warner, e transfira para um laranja qualquer – digamos a empresa "Fuck You Halle Inc". Aí, é só reprivatizar aquela joça e contratar o Collora pra dirigir e produzir todos os filmes baseados em personagens da DC Comics. Só assim eu apostaria na qualidade de um filme da Liga da Justiça, por exemplo.

Nas HQs, o Super e o Morcego têm um histórico de longa data. Na chamada "Era de Ouro", qualquer aventura reunindo os dois tinha uma concepção bem diferente. Eles eram grandes chapas. Tanto um quanto o outro era um exemplo a ser seguido, um modelo para toda família. Nos dias de hoje, Clark combina mais do que nunca com a bandeira e o totalitarismo norte-americanos, e Bruce é a encarnação do pior que uma pessoa tem a oferecer. Os dois têm ideais que são verdadeiras antíteses entre si. Mas o mais interessante é que eles não são inimigos diretos (o que seria muito mais fácil de se lidar), porque ambos compartilham do mesmo objetivo.


De um ponto de vista mais técnico, o encontro desses dois personagens também gera paradoxos interessantes. Uma produção com o Bruce evitaria um estouro no orçamento apenas com certos cuidados no tratamento: visual estiloso, atmosfera dark e um protagonista cool e sombrio. Com essas características, já é meio caminho andado para algo legal ("meio", pois Silêncio teve tudo isso nas HQs, e ainda assim esqueceram da história).

Obviamente, qualquer produção que traga o Clark no elenco, já complicaria as coisas. Primeiro: o cara tem de voar. A melhor e mais barata solução encontrada por aí (em Lois & Clark e, ao que parece, em WF também) é o imprescindível auxílio da grua. Portanto, preparem-se para mais uma dúzia de cenas focando o Clark voando apenas da cintura pra cima. Segundo: temos de vê-lo usando a superforça e disparando uns raiozinhos de calor. O teaser de WF já dá uma palhinha do Super levantando um carro e, digamos, ficou muito satisfatório. Muito mesmo. Quanto à "visão quente", se alguém tiver o telefone do Collora, avisem-no que, dependendo da freqüência, um feixe laser não é visível. É só providenciar uma lente de contato vermelha pro Clark que já entenderemos o recado.


Agora, pra mim, a maior prova de que a classe executiva de Hollywood complica o que deveria ser muito, muito simples: a escolha dos atores. E não venha me dizer que existe a questão mercadológica ou baboseiras do tipo. Hugh Jackman, antes de X-Men, era mais desconhecido que eu, e hoje deve ter até selo com a fuça dele estampada.

Se o filme for realmente BOM (lembra disso?®), ele decola. E, nesse caso, as escolhas foram muito felizes. Os dois juntos reproduzem à perfeição o mesmo embate que têm nos quadrinhos.


Clark (...!) Bartram já provou que é o Batman. E o Batman do Jim Lee, ainda por cima. Sinistro, mal-humorado, sisudo, monocórdico e com uma cara de quem acabou de comer jiló. Ele aparece aqui, pela primeira vez, sem a máscara. Parece ator de filme de ação "Z" (tipo Frank Zagarino, Gary Daniels, Matthias Hues... por aí vai).
Pouco se pode falar da atuação, já que, por enquanto, o material é escasso. Mas ele ficou muito bem na cena em que Bruce estava passando o rodo em duas comportadas senhoritas. Ele também não olhou para a câmera nenhuma vez (ao contrário de muito ator famoso por aí...). Pô, até o Batman, de dia e com sol quente, ficou legal!


Já o Mike O'Hearn no papel do Clark (o Kent) é um achado. Além da cara de líder internacional dos escoteiros, do físico de halterofilista, ele ainda conseguiu a proeza de não ficar ridículo no uniforme do Super. E outra: é o Clark mais fiel às HQs em todos esses anos de adaptação televisiva e cinematográfica.

Calma lá, pode fechar o Outlook, deixa eu terminar. O título de melhor Clark, no entanto, continua com Christopher Reeve, intocável. Seu ar de confiança inabalável e o forte sentimento de solidariedade continuam insuperáveis, pois ali houve uma transcendência do próprio conceito original da HQ. Pegou a coisa e melhorou, saca.

E pra fazer justiça (hehe), O'Hearn caracterizado lembra muito o Super do Ivan Reis. Uma cena ótima: quando Clark se despede de Lois (muito gostosa por sinal), deu a impressão de que ele ia mesmo se jogar daquele prédio. Já vi até as manchetes: "Ator se suicida incorporado pelo personagem"...


Os demais também ficaram muito bons. Lois Lane está deliciosa (não fica nada a dever para a Mulher-Gato do Grayson), e tem um jeitinho de sarcástica, ambiciosa e muito da safadinha também (ela deu uma secada violenta em Bruce).

Lex Luthor é outro que ficou muito bem caracterizado. O ator exala maldade pura no papel. Parece uma mistura do jovem Luthor de Smallville (ultra-perspicaz e ultra-ultra-capitalista) com o Luthor de Lois & Clark (pelo jeitão de playboy bilionário à Larry Ellison). E ainda resgataram a armadura verde do cara.

Já o Harvey Dent parece que sofreu uma abordagem mais realista. A queimadura em seu rosto ficou anos-luz daquela máscara esdrúxula das HQs. Os trejeitos doentios permanecem intactos, e em nada lembram o exagero cartunesco de Tommy Lee Jones, em Batman Eternamente.


No geral, a provável excelência de World's Finest (ó eu já falando que é excelente) parece ter mais à ver com o que não foi cortado e/ou adaptado do que o contrário. O respeito às fontes que Collora deixa transparecer é louvável, e prova que uma história em quadrinhos pode sim, ser transposta para a linguagem cinematográfica de forma integral e sem maiores traumas.

Além do mais, Hollywood já produziu muita porcaria com narrativas mais difíceis de engolir do que a lógica de uma HQ.


dogg, ao som da fase poser do Pantera (já ouviram o Power Metal? Querem rolar de rir?) e exibindo um timing invejável com esse post.



Anexo 21-08-2008

Olá doggma do passado. Aqui é o doggma do futuro. Cara, era tudo de mentirinha. Fake trailer. Nem queira ver o que fizeram oficialmente depois.

Hoje as coisas estão mais interativas e práticas. Inventaram um negócio chamado "embed" que... ah, vê aí.





Maneiro, né.

Ps: e quanto ao Batman, fique tranquilo. Excelentes notícias!

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