segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Supergirl (e a Legião dos Super-Heróis)


Legião dos Super-Heróis (Legion of Super-Heroes, 2023) é o 6º longa da atual fase de produções da Warner Bros. Animation, iniciada com Superman: O Homem do Amanhã (Superman: Man of Tomorrow, 2020) e seguida por Sociedade da Justiça: 2ª Guerra Mundial (Justice Society: World War II, 2021), Batman: O Longo Dia das Bruxas, Parte Um e Parte Dois (Batman: The Long Halloween, Part One/Part Two, 2021) e Lanterna Verde: Cuidado com Meu Poder (Green Lantern: Beware My Power, 2022). A fase, apelidada de Tomorrowverse, mantém certa continuidade e estabelece uma nova estética para as animações da DC: visual clean, linhas mais arrendondadas, contornos com maior espessura (por vezes, bem maior) e uma transposição mais evidente de perspectivas dos quadrinhos.

A história começa com Kara Zor-El ainda em Krypton e sendo enviada à Terra para se tornar a Supergirl. Além das dificuldades de adaptação, Kara sofre com o trauma da perda de sua mãe e de seu planeta natal. Para ajudá-la na transição, Superman a leva até o século 31, onde é recrutada pela Legião dos Super-Heróis. Logo ela se vê às voltas com o também candidato a legionário Brainiac 5, suspeitíssimo neto-clone do clássico vilão do século 21, e com uma conspiração envolvendo um obscuro grupo terrorista chamado Dark Circle. Tudo isso é apresentado numa tacada bem superficial, de quase sinopse.

No filme há pouco sobre a própria Legião e sua história. Se o título fosse Supergirl e a Legião dos Super-Heróis ou apenas Supergirl seria bem mais honesto. A trama é basicamente sobre ela, mesmo que boa parte — incluindo os conflitos psicológicos/emocionais da personagem — já tenha sido abordada no longa animado Superman/Batman: Apocalypse, de 2010. Então quem esperava uma adaptação de A Saga das Trevas Eternas ou A Legião dos 3 Mundos, pode tirar Cometa, o Supercavalinho, da chuva.

E nem arrisco mencionar a espetacular fase Legion of Super-Heroes: Five Years Later, de Keith Giffen, ainda inexplicavelmente inédita no Brasil.

Apesar do novo visual dessas animações ainda parecer incipiente aos olhos de um veterano de Batman: The Animated Series, um aspecto positivo é inegável e encontra seu ponto alto aqui: a expressividade.



Kara nunca esteve tão carismática e tridimensional numa animação da DC. Sem afetações desnecessárias, o formato agora permite mais flexibilidade nas feições, traduzindo com muito mais eficácia cada emoção apresentada. Fora que a kryptoniana está uma fofa.

Também fica nítido que deram um tapinha em algumas sequências com CGI disfarçado. Certos momentos quase remetem àquelas animações dos anos 2000 produzidas com Flash Player (lembra de Archer?), que, por si só, não é mal, mas frequentemente soa artificial, asséptico, estéril.

Novamente: apenas a impressão de um velho apaixonado pelo estilo Fleischer Studios/Bruce Timm das animações tradicionais.


O roteiro de Josie Campbell, egressa da excelente série She-Ra e as Princesas do Poder, arrisca bem pouco. Dá para ver as reviravoltas a parsecs de distância e sentir as limitações impostas pelo "andar de cima" para mexer na cronologia da prima do Super. Então, para qualquer iniciado, não há grandes novidades. O que resta é o que Campbell sabe fazer melhor: a dinâmica entre um núcleo central bem diverso, que, além de Supergirl e Brainiac 5, também conta com Vésper, Saltador, Moça-Tríplice/Dama Dupla, Rapaz Invísivel, Etérea, Mon-El e o infame Arms Fall Off Boy, que já teve até versão live action no filme bom do Esquadrão Suicida.

O diretor Jeff Wamester fez um trabalho razoável na parte da ação, que, talvez por ser material Supergirl, seja bem mais contida que seu longa anterior, o confuso Sociedade da Justiça: 2ª Guerra Mundial. Nesse quesito, a bancada de legionários veteranos formada por Penumbra, Rei Químico e Lobo Cinzento foi um tanto desperdiçada — com ligeira exceção para o último, que protagoniza uma boa sequência de pancadaria ao melhor estilo eu-sou-o-Wolverine-original-xará, com direito até a uns respingos de sangue. Tudo muito breve, porém.

Legião dos Super-Heróis se assemelha mais a um piloto de série do que um filme autocontido. Termina mostrando que não é nem um, nem outro (a cena pós-créditos se certifica disso). E que a Warner mais uma vez está audaciosamente nos levando até onde nenhum planejamento jamais esteve.

Nenhum comentário: