segunda-feira, 4 de novembro de 2024

A última nota de Quincy Jones


Quincy Delight Jones Jr.
(1933 - 2024)

Se foi o Quincy Jones. Isso nem parece uma expressão de verdade. É quase como afirmar que "se foi a música" ou "se foi um instrumento". Lendário? Também é muito pouco.

Quincy não foi apenas o produtor, compositor e arranjador que moldou a cara dos anos 1980 com os estelares Off the Wall (1979), Thriller (1982) e Bad (1987), de Michael Jackson. E nem apenas o produtor e condutor de "We Are the World", um dos singles mais vendidos de todos os tempos. Do alto de seus 28 Grammys (e desculpe, mas, sim, isso vale muita coisa), a história de Quincy se confunde com a história da música pop contemporânea e da própria história da comunidade negra da América no século 20.

Neto de uma ex-escrava, a vida não facilitou para Quincy. Desde criança, quando vivia de pequenos roubos, até sua estreia na banda do jazzista Lionel Hampton e suas colaborações com nomes como Frank Sinatra, Ray Charles, Dinah Washington, Louis Armstrong, entre outros gênios, e ainda sentindo na alma toda a violência da segregação racial dos Estados Unidos, pode se dizer que Quincy fez e viveu o seu próprio milagre. Que vida. Que história.

Neste momento, é impossível não recomendar Quincy, documentário da Netflix co-dirigido por sua filha Rashida Jones (também uma ótima atriz) e por Alan Hicks. Se ainda não assistiu, recomendo demais. É excelente e imperdível.


Ninguém é eterno, lógico. Mas algumas vezes, vivenciar um momento histórico traz uma sensação de fim de festa absurdo e que daqui pra frente a ladeira abaixo será ainda mais íngreme. Essa é uma dessas ocasiões.

Rest in Power, Quincy Jones.

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Velha Abril Jovem


Vou te dizer... os cortes e alterações dos gibis da Abril ainda me dão nos nervos, mas a diagramação, o letreiramento e os retoques – em condições 100% artesanais – eram incrivelmente agradáveis aos olhos. Especialmente aos olhos de um moleque com o conforto de um prático formatinho.

Os caras sabiam fazer.

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Nobres Criaturas

Com estreia apenas em 5 dezembro na Max, Comando das Criaturas fez questão de entregar um trailer no bonde do Halloween ‘24.


No post sobre Lobisomem na Noite, sonhei acordado sobre como seria bacana se a DC chamasse o diretor Michael Giacchino para o... comando de um Comando das Criaturas. No fim das contas, a produção não virou um longa-metragem, tampouco um live action. É uma série animada em 7 episódios com o próprio James Gunn como roteirista e showrunner.

Apesar da mera existência do desenho parecer um arrojo, não é o 1º rodeio da macabra superequipe no formato. Em 2019, o grupo estrelou um dos curtas da divertidíssima série DC Showcase ao lado do Sgt. Rock. E com roteiro de Walter & Louise Simonson e Tim Sheridan e direção de Bruce Timm. Régua lá em cima, portanto.

Mas a prévia é deliciosa e o gore é de lamber os beiços. A nova formação, apesar de ser uma variação de qualquer Esquadrão Suicida, parece lindamente disfuncional: os desmortos A Noiva e Eric Frankenstein, a anfíbia Nina Mazursky, mais o Doutor Phosphorus, Robô Recruta e Doninha, queridinha(o) do Gunn. Todos sob a liderança de Rick Flag Sr. – pai do Jr., duh – e tentando impedir a feiticeira Circe de alguma coisa aí. Cara-de-Barro também dá as... caras.

Um curioso adendo é a dublagem de Viola Davis re-re-reprisando a sua Amanda Waller, hoje uma instituição DC. Em meio a tantos astros varridos para o limbo das adaptações, a sua versão da personagem passou incólume pelo fim do Snyderverso e pela Revolução Cultural de James Gunn. Façanha comparável à Poderosa e ao Pirata Psíquico sobrevivendo alegres e faceiros a Crise nas Infinitas Terras.
De resto, diria que só faltou uma frase de efeito estúpida e badass pra fechar a conta. Mas fuçando nas informações do vídeo...
“You wanted monsters? You got motherfuckin’ monsters.”
...acho que essa se enquadra no perfil.

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Remember Di’Anno


Paul “Di’Anno” Andrews
(1958 - 2024)

Se foi, ou melhor, descansou Paul DiAnno, o eterno ex-vocalista do Iron Maiden. Para quem acompanha notícias sobre o mundo do heavy metal, não foi exatamente uma surpresa. O processo foi público, desgastante e abarrotado de velhas tretas que, inevitavelmente, definiram a sua imagem. Mas sabe o que dizem: quem não tem pecado...

A diferença do cantor para os Dave Evans da vida, é que ele tem dois clássicos absolutos no currículo: Iron Maiden, de 1980, estreia da Donzela, e seu sucessor, Killers, de 1981 – além de um dos LPs ao vivo mais espetaculares do metal, Maiden Japan, também de 1981. Estes serviram, literalmente, como matéria-prima para uma vida inteira.

Outra particularidade de Di’Anno estava em seu estilo vocal. Ao invés de seguir a escola Plant-Dio-Halford de seus pares da New Wave of British Heavy Metal, ele tinha uma pegada que, blasfêmia para alguns, era punk puro. Assim, não punk, puuuunk per se, mas transbordava atitude e crueza melódica. Impossível não associar.

O que não significava desleixo ou ausência de técnica. O hino “Phantom of the Opera” é, possivelmente, a música que melhor sintetiza os conceitos lírico e musical do Iron Maiden. Quiçá, do heavy metal tradicional como um todo. E com a voz assombrada de Di’Anno à frente, essencial.

Normalmente não seria lisonjeiro passar a vida sendo lembrado por duas obras lançadas há quase 45 anos. Mas neste caso, não poderiam haver lembranças melhores.

Essas, não são pra qualquer um.

R.I.P. Paul Di’Anno.

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Lendas do Amanhã


“Quadrinhos de super-heróis enquanto mitos modernos do nosso mundo pós-Revolução Industrial personificando nossas esperanças, medos e ideais.”

Certeza que já vi isso em algum papo-cabeça McCloudiano ou no prefácio de alguma das trocentas reedições de Reino do Amanhã (alguém aí pegou a versão pocket?). É mesmo lapidar. E se existe um quadrinho que cabe à perfeição é a obra máxima de Mark Waid e Alex Ross.

O documentário The Legend of Kingdom Come promete estudar os processos de concepção e construção que deram origem a esta grandiosa saga de super-heróis, para muitos definitiva. Provavelmente. Entre as 5 mais, pelo menos. Certo, fechemos em 10.

A direção é de Remsy Atassi com produção executiva de Sal Abbinanti, o criador de Atomika: God Is Red, quadrinho indie resenhado aqui em posts imemoriais, e que é só agora soube ser o agente/gerente de negócios do Ross. Daí a presença massiva do reservado ilustrador nas promos do projeto, que além dele e do Waid, trará nomes como Todd MacFarlane, Bill Sienkiewicz, Jimmy Palmiotti, Amanda Conner, Paul Dini e outros – e tomara que entre esses "outros" esteja James Robinson, para quem o Ross propôs a ideia da HQ originalmente.

A campanha do doc no Kickstarter vai até o dia 25 próximo. Com a meta em US$ 50 mil e os apoios rasgando na casa dos 350 mil, as preocupações passam longe dos envolvidos. Mesmo assim, um projeto só acaba quando termina.

Quem acompanha a rotina de produções independentes e financiamentos coletivos sabe que o caminho até a sala de projeção pode ser longo e tortuoso. Vide A Riddle of Steel: The Definitive History of Conan the Barbarian curtindo um hiato eterno e o longa animado The Goon, 100% financiado pelo KS e que simplesmente desapareceu no limbo – este, realmente cheguei a tomar um porre no dia em que meta foi alcançada.

Se for o caso, só o Clark com o emblema preto e surtadão pra dar jeito.

domingo, 29 de setembro de 2024

Se vai uma estrela


Kristoffer Kristofferson
(1936 - 2024)

Se foi o Kris Kristofferson. Um dos últimos ícones americanos de uma geração em seus estertores. Ídolo absoluto do country, além de um dos atores mais bacanas da boa e velha "Nova Hollywood".

Kristofferson legou uma discografia extensa (e excelente) e uma filmografia premiadíssima e muito interessante. Logicamente, seus filmes mais lembrados são os sucessos Alice Não Mora Mais Aqui (Alice Doesn't Live Here Anymore, 1974) e Nasce uma Estrela (A Star Is Born, 1976), remake de uma produção de 1937, que, duh, estrelou ao lado de Barbra Streisand. Mas ele também protagonizou três clássicos de Sam Peckinpah – Pat Garrett & Billy the Kid (1973), Tragam-me a cabeça de Alfredo Garcia (Bring Me the Head of Alfredo Garcia, 1974) e Comboio (Convoy, 1978) – e o conturbado épico western O Portal do Paraíso (Heaven's Gate, 1980), de Michael Cimino. E ainda foi o chefão do crime que antagonizava Mel Gibson no divertido O Troco (Payback, 1999), entre muitos outros.

Sem contar que ele personificou o sidekick mais fodão de todos os tempos: Whistler, da trilogia Blade.


Como se o carisma e o talento não fossem o suficientes, Kristofferson ainda tinha algo raro: atitude. Ele foi o primeiro a apoiar a Sinéad O'Connor enquanto esta era vaiada pelo seu protesto contra os abusos da Igreja Católica.

Esse sim, foi um verdadeiro herói americano.

R.I.P. Kris Kristofferson

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

A mágica de Oz


Normalmente comento séries só quando acaba a temporada. Por melhor que possa parecer no início, a coisa pode virar e terminar de uma maneira bem diferente. Mas vez ou outra é preciso abrir uma exceção: a estreia de Pinguim, da HBO, foi uma das premieres mais bacanas que já assisti. E não apenas no segmento das adaptações de HQs, mas no geral. Pura mágica narrativa da velha Hollywood.

O episódio "After Hours" se passa imediatamente após Batman (Matt Reeves, 2022). A trama se concentra no novo status quo de Gotham City após sua trágica inundação e a morte do chefão do crime Carmine Falcone, interpretado aqui por Mark Strong. O roteiro da showrunner Lauren LeFranc e a direção de Craig Zobel são cirúrgicos. Grim & gritty com gordura zero, o episódio segue a pegada dos grandes thrillers de crime e máfia. Tem uma estrutura meio Os Sopranos, é verdade, mas também bebe na jornada dos underdogs de Al Pacino em filmes do Brian De Palma como Scarface e O Pagamento Final.

Tudo nos seus devidos limites, evidente, mas sempre honrando as referências.

Colin Farrell, excepcional, mais uma vez desaparece em seu Oswald "Oz" Cobb. Se o episódio fosse apenas seu diálogo na antológica cena de abertura já sairia com o jogo ganho. A história também traz boas surpresas como o jovem dominicano Rhenzy Feliz no papel de Vic Aguilar e a participação especialíssima de Clancy Brown como Salvatore Maroni, antigo rival de Falcone.

Mas o grande trunfo neste início foi a Cristin Milioti assustadora no papel da psicopata Sofia Falcone. Uma força da natureza e uma ladra impiedosa de cenas.

Até aqui, uma horinha e pouco de um crime perfeito.

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Hora Cero Semanal presenta...


A Netflix me pegou de surpresa com esse teaser trailer de O Eternauta. Ao exemplo do sempre visado Akira, há tempos parei de acompanhar as notícias sobre a adaptação. Talvez estivesse imerso em negação ceticista, certo de que submeteriam a obra-prima de Héctor Oesterheld e Francisco Solano López ao mesmo processo de pasteurização de tantos outros. Mas até que a prévia sinaliza um outro caminho – e talvez o caminho certo.

A série em 6 episódios é uma produção argentina com estreia prevista para 2025. É criada e dirigida pelo premiado cineasta Bruno Stagnaro, que também coescreve a adaptação com Ariel Staltari. Pelo pouco que se vê, fizeram um bom uso do orçamento nos efeitos. Juan Salvo, o protagonista da HQ, é interpretado pela instituição celeste Ricardo Darín. Não brincaram em serviço.

Resta saber se O Eternauta, a série, sobreviverá ao legado do material, publicado originalmente entre 1957 e 1959 e que foi largamente influente através das décadas. A badalada Falling Skies (2011-2015), por exemplo, é um completo rip-off da obra de Oesterheld/López. Principalmente no que tange às metáforas à luta contra o fascismo e o autoritarismo, tão presente no mundo atual.

Talvez, em uma justiça poética, seu possível sucesso até lance novas luzes sobre aquilo que realmente importa. Mas sendo fiel ao espírito do quadrinho, já está de bom tamanho.

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Delboy nunca mais


Mike Mignola, uma garrafa de whisky e duas doses de amargura. Em entrevista ao Screen Rant, o criador do Hellboy fez uma turnê pelos natais passados: primeiro admitiu que ficou decepcionado com Hellboy II: O Exército Dourado (2008) e, depois, que as chances de Guillermo del Toro retornar à série original para fechar uma trilogia são quase nulas.

Num trecho particularmente tocante, fez uma DR bem intimista daqueles dias.
“Sendo capaz de olhar para trás agora, estou muito feliz com o tempo que passei com ele. Tivemos algumas aventuras, e eu acho que nós dois seguimos em direções diferentes. (...) É uma sensação muito estranha [onde] você simplesmente pensa, ‘Eu pensei que éramos amigos para a vida toda, mas eu nunca mais vou te ver de verdade’, e, infelizmente, eu acho que é meio que onde del Toro e eu estamos. Ele está em outro planeta. Estou muito feliz por conhecê-lo e trabalhar com ele quando trabalhar em um filme era com cinco ou seis caras, e não na carreira que ele tem agora.”
De fato, a atmosfera nos bastidores parecia transbordar brodagem.

Ainda assim, e por mais que tenha sido um divisor de águas para a sua maior criação, é melancólico ver o Mignola remoendo esse tópico mais uma vez. É meio um consenso geral que o Hellboy da versão do del Toro morreu há tempos. E isso não é necessariamente algo ruim.

Na entrevista, o quadrinista conta que ficou três meses trabalhando na pré-produção do 2º filme e que não viu nada daquilo no resultado final. Não surpreende, se "olhar para trás" com a sobriedade que só a idade traz.

Como aventura, o Hellboy 2004 batia na trave, salvo pelas boas caracterizações, produção esforçada e a transição daquele terror gótico dos quadrinhos. Uma transição a conta-gotas e com estética à Tim Burton, mas já era alguma coisa. O Exército Dourado, por sua vez, trocou esse aspecto por um clima de fantasia Tolkienesca. Tudo ficou suntuoso, onírico, inofensivo, fofo demais.

Cheguei à conclusão que del Toro fez aquilo que garantiu que nunca faria.


Lembro que escreveria uma resenha sobre o filme, mas fiquei com o editor de posts aberto por duas semanas sem conseguir redigir uma frase. Não queria falar mal, mas era impossível falar bem. Desisti.

Segui o conselho do velho monge de Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera (2003). É um bom conselho.


E serve tanto para coisas quanto para pessoas, viu Mignola?

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Adeus, Baterista


John Cassaday
(1971 - 2024)

Inacreditável é pouco, mas é verdade. Se foi o John Cassaday. Só 52. No curto tempo em que esteve neste lugar, nos maravilhou com sua arte única, repleta de simbolismos e assaltos sensoriais. Nem Planetary de Warren Ellis, nem Surpreendentes X-Men de Joss Whedon, nem Eu Sou Legião de Fabien Nury seriam os mesmos sem ele.

A bem da verdade, qualquer HQ melhorava 300% com seu traço.

Uma porrada dessas por si só já demanda um tempo para assimilar. No mesmo dia da partida de outra emblemática figura então, é dose pra sobrecarregar qualquer buraco negro informacional.

Descanse em paz, Cassaday. E muito obrigado.

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Ao mestre com carinho


James Earl Jones
(1931 - 2024)

Se foi o venerável James Earl Jones. Terminou hoje, numa segunda-feira outrora qualquer, uma longa, produtiva e incrível vida. É estranho pensar sobre isso da perspectiva de um admirador. Ser confrontado com a finitude nunca é fácil – não por "medo", mas pela constatação, em alto e bom som, de que o relógio está correndo. No caso de Earl Jones, em alto e bom som com vozeirão de barítono.

Definitivamente não é o caso de revisitar uma longa lista de seus trabalhos: Dr. Fantástico (1964), Claudine (1974), Conan, o Bárbaro (1982), Campo dos Sonhos (1989), seu icônico Darth Vader na franquia Star Wars e vários outros (inclusive as nabas) nunca saíram da minha grade de programação.

Mas a torrente de notícias sobre o fato me lembraram de uma bela exceção.


The Great White Hope (A Grande Esperança Branca, 1970). Um filmaço a ser revisto em breve – talvez junto com o impagável mezzo remake mezzo paródia The Great White Hype (O Trambique do Século, 1996), com Samuel L. Jackson. Sessão pipoca de primeira.

Fim de uma era com certeza. Mas eterno já há um bom tempo também.

Thank you for everything, James Earl Jones!

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

A volta da Legião Alien


Quase não lembrava que o Predador e os Aliens são propriedade da Marvel desde 2020. Em que pesem dois crossovers de 2023 (Predator versus Wolverine e Predator versus Black Panther), a sensação de espera por material inédito com os Aliens foi de uns 57 anos. E finalmente veio, com pompa e muita circunstância: a mini em 4 partes Aliens versus Avengers tem roteiro de Jonathan Hickman com desenhos de Esad Ribić e a 1º edição chegou às lojas no finalzinho de julho, às vésperas da estreia de Alien: Romulus. Timing impecável. Esses editores Hyperdyne modelo 341-B com inibidores de comportamento são os melhores.

A trama se passa algumas décadas no futuro da "linha do tempo deslizante da Marvel"® e este primeiro capítulo é quase uma intro estendida. Após uma infestação sistematicamente plantada de Aliens, várias civilizações caíram, entre elas o Império Intergaláctico de Wakanda e a Terra. Mesmo os esforços dos meta-humanos foi insuficiente, dada a virulência da reprodução dos Xenomorfos. O planeta foi literalmente tomado por milhões de Aliens. Entre escombros de um mundo pós-apocalíptico, ainda persiste uma pequena resistência formada por Hulk, Capitã Marvel, Valeria Richards, o Homem-Aranha Miles Morales e por um sugestivo "Velho da Weyland".

Neste início, a pegada é de gibi cinematográfico, aos moldes do que Mark Millar fazia em seus tempos de Supremos. Muita ação, algumas dicas importantes espalhadas pelo caminho e um ou dois diálogos preparando os próximos rounds.

É bastante curiosa a efetivação da companhia Weyland no Universo Marvel. Parece que ela sempre esteve lá (e seu logo invertido para o "AVA" da capa reforça a impressão). O mesmo para a dupla de cientistas Shi'ar – e ainda considerando a real natureza de um deles – conduzindo experiências com Facehuggers impregnando Krees e Skrulls. É tão harmonioso e casual que chega a ser, putz, realista.

Esse "entrelaçamento quântico" de dois universos complexos chega a lembrar o mesmo mecanismo do clássico crossover dos X-Men com os Novos Titãs. Além de ser algo particularmente arriscado na perspectiva editorial.

Nos encontros dos Aliens com os super-heróis DC, como Batman, Superman e Lanterna Verde, foi dispensada a segurança do selo Elseworlds e a ação corajosamente se passa no presente da cronologia. Warren Ellis foi mais longe e usou os Aliens para fechar as contas do StormWatch.

Já Hickman, foi, digamos, mais conservador. Afinal de contas, a mini não é exatamente um What If...?. Não pegaria bem com os executivos da Disney um Xenomorfinho estourando o peito da Tia May e isso se tornando automaticamente canônico (viva!). Neste sentido, Aliens versus Avengers se aproxima do futuro sombrio da boa Saga dos Super Seven, da DC, com os super-heróis envelhecidos e derrotados num mundo tomado por uma invasão alien... ígena.

Quanto à adaptação, o próprio Hickman chegou a comentar: "foi complicado encontrar uma maneira de fazer essas duas coisas funcionarem juntas, mas acho que Esad e eu chegamos a algo que funciona para os fãs de ambas as franquias."

Ainda é cedo para um juízo de valor, mas, apesar da média alta, o roteirista parece ter sido pego na curva algumas vezes.

SPOILER

Por exemplo, se Valeria estava impregnada, por que os Aliens a atacavam?

FIM DO SPOILER

Evidente que é só a ponta do iceberg. E vindo da visão macro do Hickman, fiquei na pilha pelo escopo geral desse worst case scenario. O objetivo dessa edição #1 foi cumprido, portanto.

Aliens versus Avengers #2 chega às lojas (e às melhores importadoras do pedaço) em 6 de novembro. Looonge...